Vitrine da Dzarm

Como quem gosta de moda não cansa, a maratona de Fashion Rio, dia seguinte embarca para a São Paulo Fashion Week, sai de SP no sábado e na segunda já está em Gramado, nem pesou. E olhem que a Fenim estava gigante, com 500 expositores divididos em vários setores. Muito calor, que não conheço verão mais verão do que a minha terra, o Rio Grande do Sul.
Vimos a evolução da moda masculina, que aposta no luxo de detalhes e requintes pelo lado do avesso das roupas (forros estampados, colarinhos com vivos coloridos), a variedade dos tricôs, a grande oferta de surfwear no sul do país.
Hoje reproduzo o texto sobre a moda masculina escrito para o Jornal do Brasil, com alguns acréscimos. Só no último dia de feira eu soube, pelo Ivo Chicuta, que uma determinada marca havia lançado uma cueca com bojo. Ora, era o final perfeito para uma reportagem sobre a nova atitude do homem perante a moda. Mas a matéria estava feita e enviada, graças ao wireless do hotel Casa da Montanha.
Mesmo assim, como ninguém lembrava o nome da marca, saí perguntando de estande em estande. “Vocês lançaram uma cueca com bojo?” e as reações eram de espanto. “O que? Cueca com o quê?” . Enfim, a novidade que já faz sucesso há um ano, é da Mash. A cueca Push-up não tem um bojo de espuma, como os sutiãs femininos, e sim, uma espécie de nicho feito pela modelagem. Que dá um volume maior, e faz sucesso por isto. Estes meninos…

Segue a reportagem:

O mercado masculino atrai as atenções da moda. Depois dos desfiles nos eventos do Rio e São Paulo, a 13ª Fenim (Feira Nacional da Indústria da Moda) filtra os lançamentos das indústrias, que devem ser adotados pela maioria dos brasileiros.
O setor masculino surpreende pelo empenho em peças requintadas, com detalhes dignos de serem chamados de luxo, mas com possibilidades de preços razoáveis. “O homem está cada vez mais vaidoso e gosta de qualidade”, confirmou Luciano Café, sócio do irmão, Jayme, na marca MPW, que lança pólos com cores e recortes baseados nos esportes de elite – polo, rugby e circuitos de motoesporte.

As mudanças mais importantes acontecem na linha de alfaiataria. Nos ternos, paletós e calças, o luxo se esconde no avesso. Na Apa, grife carioca de 41 anos que figura entre as 10 maiores do mundo, o próprio Luiz Apa (foto à esquerda) mostra o forro ou vista francesa do paletó cinza, com pespontos contrastantes e bolsos internos com vivos em jacquard de seda violeta. Para dar uma idéia do poder de moda da Apa, basta lembrar que o terno de cambraia cinza desfilado por Cauã Raymond para a TNG, no Fashion Rio, saiu da produção de 17 mil roupas mensais na baixada fluminense, onde fica a confecção da Collezioni d’Oro da marca. Em Leopoldina, Minas Gerais, é feita a linha mais básica, com 32 mil roupas mensais. A partir de março começa a exportação de 10 mil smokings por mês para os Estados Unidos.
“Na moda masculina não se pode inventar muito por fora, melhor inovar por dentro”, define Siara Zach´, diretora de produção da etiqueta Cherne, de Colatina, Espírito Santo. As calças jeans do inverno são forradas em outros tecidos, o cós tem debrum colorido, algumas peças em jeans são listradas e xadrez no avesso. Nas calças em tecidos planos, os senhores exigem misturas com fibras de elastano. “É pelo conforto, mas também porque o homem que se sentir mais sexy, com modelagens mais ajustadas”, explica Siara.

Perfil da Fenim – segundo um dos diretores, Julio Viana, esta é uma feira boa, grande e movimentada, apesar de ficar fora do eixo Rio-São Paulo. “Trazemos seis mil CNPJs (lojistas e empresários) do Brasil, indicados pelos 500 expositores. Mas pensamos em montar a edição de verão no Riocentro, no Rio. Preciso fazer acordo com a hotelaria local: não quero nada de graça, aqui em Gramado pago diárias de R$ 160 a R$ 180”. Esta 13ª Fenim tem o desafio de superar as notícias de crise, mas Julio releva o risco. “Temos também a incerteza do inverno, nunca se sabe quanto frio teremos. No ano passado foi mais ou menos, mas em 2007, ano de bastante frio, dizia-se que os lojistas vendiam até as cortinas”.

O que será moda para os homens no inverno


Tecidos: risca-de-giz, é clássico. Tendência, o brilho em grafites e cinzas, como mandam Hugo Boss e Giorgio Armani. E moda, o falso liso, com relevos quase invisíveis na trama maquinetada (Sartoria Suprema, da Kowarick). Os tecidos de poliester microfilamentado e viscose e a lã com poliester concorrem com o Super 120, com custo até 30% menos no produto final.

Gravata: continuam os listrados e lilazes. Os rosas voltam até o fim do ano. Um toque Art-Déco nos desenhos em seda italiana, com brilho metálico (Spring). As mesmas tendências são encontradas em gravatas de poliester, por 1/4 do preço da seda

Camisaria: por dentro do colarinho, um vivo em seda com estampa de gravataria ou poás. Na mesma cor, a linha que faz a casa do punho (linha Doppio Rittorto, da Spring)

Sapatos: clássicos ingleses, Oxford, Brogues, em couro, forrados e com palmilha também, em couro, são os favoritos dos executivos. Bicos mais afilados e ausência da vira na sola são freqüentes nas coleções internacionais Hugo Boss e Manfield. As botas Northern, em estampa lézard, representam outro requinte esportivo. São calçados de preço em torno dos R$ 320 no varejo (Bettarello)

Casual: os casacos e blusões em moleton e malha ficam versáteis. Se transformam em coletes, abrindo um fecho nas cavas e podem ter o capuz retirado, para parecer mais com jaquetas. No forro, tecidos listrados e estampas tipo cartoon (Dzarm e Hering)

Desfiles de astros
A Fenim apresentou um desfile coletivo de oito marcas, cada uma com um ator ou atriz no elenco. Kaiky Brito mostrou os jeans da Six One; Iran Malfitano, um hoodie da OP; Dado Dolabella de hoodie e listras vermelhas da Red Nose; Cauã Raymond, de c

alça xadrez da Cobra d’Água (foto à esquerda), Henri Castelli, na Osmoze (foto à direita)
e o Zulu, na No Stress, de sungão azul, de calça cargo e camiseta vermelha…e de cueca preta! Só o Zulu mesmo, para sair de cueca da passarela em 8, para acenar mais de perto para a platéia em delírio . Ah, ainda passaram duas Misses Brasil, pela marca de fitness Rosa Tatuada e a Juliana Knust, pela Meltex.
Este tipo de show sempre prioriza as celebridades no elenco, não há muita atenção no styling. Por que os hoodies são apresentados nos homens de peito nú? Por que falta identidade nas peças selecionadas? Para não dizer que havia igualdade total, a música era diferente (e boa) para cada grife. A cenografia afastou demais a platéia da passarela, havia espaço suficiente para montar um salão bacana.

Como sempre, penso nos vôos nesta época de temporais no sul. Perguntei ao Dado se tinha turbulência. “Se teve, nem vi. Turbina de avião para mim, tem o mesmo efeito do barulho de um aparelho velho de ar condicionado; no que ligou os motores, caio dormindo.”
Quanto ao Zulu, foi meu companheiro de descida da serra, na van das 6h40, para pegar o vôo de volta para casa, em Porto Alegre. Ele, indo para Florianópolis e eu, para o Rio. Perguntei onde era o próximo trabalho dele. “Deve ser em Fortaleza, para um catálogo. Fiz no ano passado, eles gostaram do resultado, agora vão lançar mais produtos, meias, e vou lá fotografar. Tenho que aproveitar enquanto ainda me chamam”, respondeu. O quê, Zulu?

Comentei que ele estava ótimo, que tinha emagrecido. “Ah, mas é porque agora quero realizar meus sonhos. Sempre quis ser faixa-preta de judô, mas o trabalho não permitia. Agora, consigo me dedicar. E tem que ser agora, né? Afinal, estou mais pra lá do que pra cá…” Vocês acreditam que o mito das passarelas tenha dito isto? É bem o jeito modesto dele, e acaba sendo uma das razões que ele continua sendo o mais aplaudido, o mais gritado e o mais querido da moda brasileira.

Intervalo / tenho que passar adiante estas informações, só para demonstrar que a crise é algo relativo. Uma marca de Santa Catarina quase conseguiu trazer a Paris Hilton para fazer um catálogo. Na última hora, não deu certo, mas já havia um contrato de R$ 560 mil assinado. Foi feita a troca por um top brasileira. Precinho: R$ 160 mil por 10 horas de trabalho. Nada mal, não é? / assisti à excelente palestra do Sílvio Chadad, sobre como enfrentar a crise. “Alguém aqui na platéia vendeu mais, quando a Bolsa crescia? “, foi uma das perguntas recebidas com silêncio. “Só há uma forma de crescer: tomar a prateleira do concorrente. Quem ficar parado, esperando a situação se definir, quando acordar, já perdeu o espaço na prateleira do lojista. Agora, é briga de prateleira”, definiu. E mais: afirmou o comportamento do consumidor:” o cliente dá mais valor à forma como é atendido do que propriamente ao produto que vai comprar”. Sabidão, o Chadad