Jairo e os botões da Casquinha

Muita renda, muitas texturas, uma riqueza de tramas e estampas que parecem bordados, são as propostas do salão Premiere Vision, que se realiza em Paris até o dia 23, sexta-feira. Exige uma meia hora de viagem de trem RER (reseau regional, o equivalente a um metrô linha 2 no Rio), no mínimo, um dia inteiro dentro de seis salões estilo Riocentro ou Anhembi. Mas vale a visita,profissionais de moda do mundo inteiro consideram o salão como uma espécie de farol do futuro. Claro, nem sempre o anunciado acontece na data prevista, mas o fato de reunir os maiores fornecedores do mercado dá muita credibilidade ao que expõem como tendências.

Tanto é importante para os grandes profissionais do metier, que logo na entrada encontrei Andrea Saletto e Hiluz del Priori. Esta já foi adiantando “a feira não está grande coisa, mas nós viremos nos três dias”. Imaginem se estivesse boa! Os temas principais rodam em torno dos básicos contemporâneos: a sedução, o esporte, a alfaiataria e o equilíbrio. Tons de branco e cinza predominam, iluminados por verdes claros e rosas-bombom. As oncinhas continuam!

Além de visitantes e compradores, os brasileiros comparecem também como expositores. Desta vez, conversei com quem estava no Modam’ont, o setor destinado aos fornecedores de aviamentos. Um exemplo, o grupo que faz parte da Assintecal, associação que reúne 130 empresas ligadas a indústrias de couro, calçados e artefatos. Como o Casquinha, ou o Jairo de Andrade, que interessou compradores ingleses, loucos para usarem seus botões de madeira em sapatos. E a uma equipe da Dior, que fez um pedido de quatro páginas. O gaúcho Jairo produz botões para o século 21. Segundo ele, “um tempo de geometria, matemática, que são bases do conhecimento. Mas ao mesmo tempo, o mundo está descompassado. Assim, os botões têm espirais, representando um estado confuso, perdido. Ou vêm com pedaços de metal entalhado, como algo meio destruído. Para nós, mesmo o lado estético da moda tem que ter um conteúdo”, contou Jairo.


Os tags de fibra de banana da Tecnoblu

Mais adiante, a Tecnoblu, fábrica de etiquetas e tags (etiquetas retiráveis) de Blumenau, também tinha o que celebrar. O presidente, Cristiano Buerger acabou de fechar um acordo de representação com a Union Knopf, marca de botões alemã, capaz de lançar mais de 800 produtos por coleção. Além de lindas – atualmente, predominam os botões de quatro furos, em cores e gradações variadíssimas -, estas coleções são apresentadas em cartelas primorosas, que induzem às tendências do momento. Eles têm fábricas na China e na Polônia, fazem tingimentos exclusivos e personalizados e serão vendidos de forma bastante fechada no Brasil. “Vamos marcar hora e dia, com os clientes especiais. Levamos os produtos até eles, e vamos personalizar o máximo cada produto”, anunciou Cristiano, que acredita que a palavra do momento é personalizar, é a identidade. Para tanto, pretende manter a Tecnoblu dentro de Blumenau (Santa Catarina), origem da marca que atualmente faz sucesso na feira francesa graças aos tags de fibras de…banana! “A Diesel continua com a sede em uma cidadezinha da Itália, a Abercrombie se mantém no interior dos Estados Unidos, a Zara está no interior da Espanha. Nós vamos ficar em Blumenau, e estamos acrescentando à fábrica uma outra unidade, que é o Estudio Tecnoblu, dedicado à criação. A equipe, além dos nossos designers (como o Julinho, craque da Tecnoblu), conta com grafiteiros e um designer industrial. Fizemos uma parceria com a Lal Têxtil e a Renault Tecidos, no estúdio, que vai além da própria Tecnoblu”.
Só esta evolução de uma empresa que vive de fazer etiquetas e se lança agora no mercado de botões, com produtos de primeiríssima linha, valeu a visita. Mas discordo da Hiluz, quando ela diz que a Premiere Vision estava meio mais ou menos. Achei muito boa, com idéias femininas e bonitas, e com a vibração de bons negócios.