Mario Queiroz, opção masculina
17h35
Taí, os homens devem parar de se queixar da falta de atenção prestada pela moda. Esta temporada de inverno, que deve ser enfatizada pela Fenim, na próxima semana em Gramado, foca bastante as novidades masculinas. Sem brincadeiras, a passarela deixou de ser reduto de estilos gays, de saiotes e babados dandis. Bom, Mario insiste nas sobressaias, que desta vez se adaptam ao conceito dos guerreiros nobres. Eles usam mantos, roupas amarradas e saias pregueadas. Os outros, que de guerreiros só tem a arena do dia-a-dia, se contentam com as calças de gancho baixo, os paletós de quatro botões ou as calças mais secas, em telas de algodão, com suéteres de trançados. A risca-de-giz sai dos cinzas e pretos e adota o fundo azul. Tem sobretudo de faixa e sem faixa, perfeitos para os elegantes do sul. Nos pés, os tênis assinados pelo Mario para a Puma, com a curva lateral de couro.
17h45
Styling Lara Gerin
Cenografia: Mutza
Beleza: Raquel Mello (Gloss)
Intervalo / a trilha de tambores e cordas combinou com o espírito guerreiro da coleção. Mas cansou, de tanto John Cage e Iannis Xenakis, selecionados pelo maestro Fernando Iazzeta / ainda mais para quem ainda não almoçou…/ ainda não comentei o vôo de vinda Rio-São Paulo. Quando ia aterrissar em Congonhas, o Airbus da TAM arremeteu, e entrou em chuvarada e vantanias, com turbinas a toda. O comandante Marquese (ou Marchesi, desculpe) avisou que ia pousar em Campinas, reabastecer e tentar Congonhas de novo. Nada disso: tanto Congonhas como Campinas e Guarulhos estavam com ventanias de rajadas e ataques de raios. Dê-lhe que orbita, acelera para atenuar a chacoalhação. Passageiras roíam unhas, gritavam e choravam discretamente. Outra opção: Ribeirão Preto. Onde aterrissamos, junto com a chuvarada. “Ela está nos perseguindo”, comentou bem-humorado o excelente piloto. O avião foi reabastecido com os passageiros dentro, todos falando nos celulares (ué, onde ficaram os procedimentos que dizem que há perigo, por causa de possíveis faíscas de aparelhos eletrônicos?). Com uma certa prática de rotas turbulentas (Rio-São Paulo; região de Montevidéu: Andes, centro-oeste americano, canal da Mancha, costa da África, sul de Minas, costa de Santa Catarina), olhei para o céu carregado de nuvens que pareciam saídas do desfile da Osklen (todas em preto, branco e cinza) e avisei que ia descer em Ribeirão, para revolta de alguns passageiros, sei lá por que. Descemos eu e Ines (que não tem medo de avião), quase beijei o chão da pista de Ribeirão, como fazia o Papa. Junto conosco, saíram uma médica, Dra. Claudia, e o filho, Maurício, que foi comunicar à cabine que desceríamos. Fizemos uma ótima viagem de três horas, a 120km por hora, no taxi do seu Arlindo, de Ribeirão. Chegamos em Congonhas, onde nossas malas aguardavam, intactas. Conheci a Claudia, que contou o final da Favorita para Ines e que trabalha no hospital recém-inaugurado pelo Kassab, no meio de uma das comunidades mais carentes de São Paulo. Lá, ela trata de crianças com HIV. Hoje, domingo, era seu plantão. Por isto, veio de avião, para chegar mais rápido. “Não posso ficar sem ver meus bebês”, justificou. Neste momento, para mim valeu a chacoalhação no vôo 3939, o gasto com o taxi e a chegada ao hotel às 22h30. Nem tudo é moda nesta vida.