eliana
foto Marina Sprogis
Eliana Tranchesi, que comandou a butique Daslu, herdada de uma tia e de sua mãe, não era modelo nem estilista, mas foi uma das figuras mais importantes da moda brasileira. Ela revelou o Brasil como mercado para a moda de luxo das grifes internacionais. Nos anos 1990, começou a trazer marcas francesas, italianas e americanas para o complexo Daslu, em Cerqueira Cesar, bairro residencial de São Paulo. Meninas da sociedade paulistana atendiam as clientes, que experimentavam as roupas no meio da loja, como se estivessem no closet das próprias casas. Funcionárias de avental branco e vestidos pretos circulavam servindo café, champanhe, água e chocolates.
No governo Collor, quando as contas bancárias dos brasileiros foram bloqueadas e ninguém apareceu para fazer compras, Eliana reuniu as equipes para rezar na frente da loja e afirmou que um dia abriria uma butique Chanel naquele endereço. Em menos de 10 anos, a direção da grife francesa se surpreendia com a notícia de que as brasileiras compravam mais bolsas Chanel do que as consumidoras da butique de Tóquio. Um dos segredos era o sistema de vendas com crêdito organizado em caderninhos.
O movimento no quarteirão onde ficavam as casas Daslu era tanto, que a associação do bairro forçou a saída do complexo para outra zona de São Paulo. Mais uma vez, Eliana enfrentou a dificuldade e construiu um templo do consumo de luxo, em uma região destinada a prédios comerciais. Lá, alem das marcas internacionais, havia restaurantes sofisticados e um helicóptero pendurado sobre o átrio.
Seu trabalho mudou a imagem do Brasil no universo da moda internacional. Ao mesmo tempo que as grifes européias faziam sucesso no Brasil, a moda brasileira era descoberta por formadores de opinião internacionais, já que a Daslu promovia um concorrido show-room da marca própria, no hotel Plaza Athenée, em Paris.
As crises na economia do hemisfério norte e o começo do governo do presidente Lula contribuíram para desencadear problemas na empresa. Eliana Tranchesi foi presa por sonegação e fraudes de importação, condenada e mais tarde liberada para tratamentos médicos, já que havia desenvolvido câncer de pulmão. Católica fervorosa, nunca fumou e manteve o otimismo perante as situações difíceis. Faleceu aos 55 anos.