Nunca, em tantos verões que passo no Rio de Janeiro, vi tanta gente calçando chinelos de dedo nas ruas, a qualquer hora.
Havaianas no calçadão carioca (imagem Instagram Havaianas)
Começou pelas pequenas invasões de turistas gringos, que gostam tanto das nossas flip flops que as Havaianas abriram lojas em várias cidades do mundo. Estes visitantes sempre se bandearam para o Centro da cidade portando bermudas, regatas e chinelos, além de indefectível garrafinha de água. Entravam na elegante Colombo, subiam no convento de Santo Antonio e tentavam chegar a Santa Teresa, provavelmente contando com um sistema de bondinhos que mal sobrevive atualmente.
Depois, o povo da moda começou a disputar e colecionar as edições limitadas, ainda que pouco se atrevessem a expor os dedinhos (por favor, artelhos é uma palavra feia) em ocasiões além-praia.
Rômulo Arantes Neto e José Loreto deliram com as espadrilles coloridas no ótimo comercial
A investida das Havaianas acabou impressionando, pelas páginas duplas abrindo a revista Caras, pelas campanhas mostrando filas de bonitões de chinelos querendo entrar em um point da noite. O produto também evoluiu, no exterior até botas são vendidas, sempre com o solado característico. Na TV, a variedade irresistível de cores das espadrilles foi bem explorada no comercial reunindo dois casais divertidos, Romulo Arantes Neto e Cléo Pires e José Loreto e Débora Nascimento.
A pressão nos cercou por todos os lados. Tanto da nossa eterna mania de imitar os estrangeiros, como da influência das celebridades e da moda. Neste verão de quase 50 graus (estamos chegando lá, já tivemos dias de 45), os chinelinhos de dedo venceram as resistências cariocas, porque além de tantos argumentos, são o que há de confortável no calorão. Tenho visto pés bronzeados e unhas pintadas de rosa com as tiras douradas, algumas customizadas, outras pretinhas – enfim, viraram itens colecionáveis que vão para a rua a qualquer hora.
Enquanto são postados selfies de pés de chinelos variados, discute-se a preferência. Havaianas ou Ipanema? Há algumas diferenças:
Philippe Starck assina a novidade deste ano, uma sandália de tiras fininhas da Ipanema
As Havaianas têm sola de borracha / as Ipanema, de um material que se amolda ao formato do pé
Havaianas investem em modelos baseados no original, ainda que seja uma espadrille ou uma bota / a Ipanema lança sandálias diferentes – uma das linhas de rasteiras, assinada por Lenny Niemeyer faz muito sucesso
Sandália assinada por Lenny Niemeyer, na versão Nude
Havaianas começou a ser consumida pela classe C e subiu para A / Ipanema já começou pela A, a partir do momento em que fez parcerias com designers famosos e abriu a Casa Ipanema, loja cult no coração de Ipanema
O marketing das Havaianas é mais forte. Pelo movimento de Natal que notei nas lojas da marca no shopping Leblon, Rio Sul e BarraShopping, além das sandálias, o lançamento das coleções de roupas também agradou muito. Mas nas mídias sociais, principalmente no Instagram, o conceito ainda é de praia e férias, enquanto na vida real os chinelinhos vão do supermercado à balada
Enfim, há espaço nos nossos closets para todas as marcas. A novidade é que neste verão tanto Havaianas como Ipanemas saíram das areias e do status de ficar em casa, para calçar pés femininos e masculinos, de A a Z.
É o calçado mais democrático que existe.