Primeiro, há alguns meses, foi o encanto pela vitrine, que atraiu pela originalidade das peças. A vendedora informou que era marca de Friburgo, tudo pintado à mão. Depois, foi o nome: Zsolt. O que significava, de onde saiu, como se pronunciava?
Meses depois, tudo se resolve. Nesta semana, os irmãos Bruno e Thatiana Schot convidaram para ver a coleção Rio Negro na loja do Ipanema 2000. Primeiro, o mistério do nome. Simplesmente a dupla passou de carro por um local onde uma placa informava que havia o consultório médico do Dr. Zsolt! Gostaram do nome, provavelmente húngaro, e adotaram como marca, com a pronúncia “solt” mesmo.
Origens: Atualmente a lei do marketing avisa que os produtos devem contar histórias. A Zsolt não para no nome imprevisto. O começo foi há 18 anos, confeccionando cuecas em Friburgo. Quando cansaram de fabricar para os outros venderem, resolveram partir para a moda há 11 anos. Ele, publicitário com especialização em fashion business, ela, formada em Administração, ambos criativos e persistentes
. A coleção: Mais história: há cerca de um ano, os dois partiram para uma imersão de criação na Amazônia. Ainda não estava nesta seca, o rio Negro deixava apenas as copas das árvores de fora. “O barqueiro comentou que no auge da cheia as árvores quase somem”, comentou Bruno, que tocava as folhas achando que eram moitas nas margens. Esta viagem inspirou a coleção Rio Negro, dividida em Over All e Orbi, tudo pintado com pinceis, esponjas de lavar carro e o que mais acontece. Como a roupa recém-pintada, que caiu no chão. “Pronto, perdemos o trabalho! Mas quando suspendemos, achamos lindo, não era defeito, era efeito!” lembra Thatiana, e o efeito “caído” foi incluído nas técnicas e reforçou o conceito de estamparia intuitiva.
Mais história: Mal voltaram da Amazônia, cheios de ideias, foram para Nova York, levados pelo Sebrae para a feira Coterie. O espaço de 2m x 2m era pouco para o número de visitantes encantados com a Zsolt. Resultado: pedidos para a Carolina do Norte e Califórnia. Mas os mais encantados: compradores japoneses! A negociação de 1.800 peças para o Japão está em andamento. “Somos uma marca pequena, temos que treinar pessoas para conseguir entregar tudo direito” , conta a dupla sensata, feliz por contar com pessoas que trabalham na produção. Muitas saíram da depressão provocada pela covid, e ficam orgulhosas de ver as peças que fizeram nos figurinos das novelas de TV. A viagem para Nova York também provocou a reforma da loja, que ficou mais espaçosa, minimalista e tem a vista das árvores da rua Visconde de Pirajá, lembrando as copas quase submersas do rio Negro.
Não acaba aí: Parece que cada passo dentro da loja tem uma historinha. E esta é surpreendente, se encaixa no conceito do lixo zero, da sustentabilidade: os retalhos são reaproveitados, emendados, formando novos tecidos que confeccionam calças e blusas de modelagem perfeita. Na vitrine do dia do lançamento, cestinhas com rolos de tecidos tingidos estavam à escolha dos convidados, que poderiam transformar em saias, mantas, blusas. As cores neutras confirmam a cartela da coleção – cinza, cáqui, azul e verde.
Na real: Tanta história tem o lado prático. A modelagem é atemporal, genderless, para todas as idades e tamanhos. Tem pra todo mundo, com a exclusividade garantida: quem sabe onde ficarão os respingos e carimbos da sua roupa? Os preços variam de cerca de R$ 500 até R$ 848.
Fotos Ines Rozario
E mais: confirmando minha admiração pelo estilo coreano, na Coterie, segundo Bruno e Thatiana as melhores coleções eram de designers da Coréia do Sul / a moda brasileira chama a atenção no mundo. Mas ainda é preciso contornar a fama de entregas com diferenças em relação ao pedido, os atrasos. Nem é questão de preços altos, é de cumprir os prazos e a expectativa das peças encomendadas.