Fachada do Lutetia, no boulevard Raspail

É o único hotel grande da margem esquerda, com mais de 250 quartos. Comemorou um século no ano passado e fica em point privilegiado de Paris. Este é o Lutetia, hotel construído originalmente para hospedar os fornecedores e compradores do magazin Au Bon Marché.

O point é bom, porque: fica em frente ao Au Bon Marché, a loja de departamentos mais chique da cidade – agora faz parte do grupo LVMH, o luxo em forma de sigla. Todas as marcas estão nos quarto andares enooormes, verdadeiros labirintos, e mesmo quem não curte consumo vai curtir no Bon Marché as diversas exposições temporárias. Atualmente há uma sala dedicada a Christian Dior, tipo tem-que-ver, muito bem montada. Só um detalhe: não há menção ao John Galliano, que se envolveu no episódio de insultos anti-semitas e dizem que está internado para reabilitação no Arizona, Estados Unidos.

Outro detalhe do point, importante para as brasileiras católicas, cristãs ou apenas cheias de fé quando viajam: fica pertinho da rue du Bac, da igreja da Medalha Milagrosa.

O metrô é o Sevres-Babylone, bem central, com acesso para a cidade toda.

E o hotel, afinal?

Está muito bem conservado, para quem tem um século de atividades. E muita história em cada centimetro. O que mais se sabe é de ter sido quartel-general dos alemães da contra-espionagem, durante a ocupação na segunda Guerra. Antes dos nazistas chegarem, houve tempo de levanter muros no subsolo para preservar as melhores champanhes e vinhos, verdadeiros tesouros para os franceses.

O que poucos sabem (eu, pelo menos, não sabia) é que quando a guerra acabou, o Lutetia recebeu os prisioneiros dos campos de concentração e os deportados. Funcionou como ponto de reencontro das famílias e hospital para os doentes e feridos.

Tanta história, contada e recontada, vista em belo livro próprio, faz do Lutetia um local cultivado pelos franceses, pelos atores, escritores, intelectuais de Paris. Eles protegem o hotel como um monumento, um patrimônio, e formaram uma associação de amigos, que integra nomes como Juliette Greco, Gerard Depardieu. São tão influentes que, quando houve a venda recente (em agosto) para um grupo de Israel (que voltas o mundo dá!) se reuniram e praticamente exigiram que fosse mantida a identidade do Lutetia.

Suite Enfant, com piso de tábua corrida

A primeira impressão esconde os verdadeiros luxos do ambiente. Tapete gastinho na porta giratória, uns descascadinhos na pintura das portas, na base das esculturas, o elevador pequeninho…Aos poucos, no entanto, repara-se nas obras de arte, no colorido elegante, até nos corredores. Alguns quartos têm histórias, como o 109, onde ficou o comandante do serviço secreto alemão.

Móveis em forma de instrumentos musicais na suite Arman

Outros, são homenagens, como a 514, suite Arman, em honra de um escultor com movies em forma de instrumentos de música; o 306, a suite Enfant, com piso de madeira e chuveiro em box, exigência dos hóspedes americanos; a 711, linda, duplex, perfeita para lua-de-mel, da cama no segundo andar se avista a Torre Eiffel, é justamente a suite Eiffel. Uma das mais requisitadas, que estava ocupada quando estive visitando, é a 311, suite Vik Muniz.

Amenities chiques, da Annick Goutal

Para dar uma idéia do requinte, os shampoos e sabonetes são da Anik Goutal. Os roupões parecem de pelúcia, de tão fofos.

Os restaurantes estão sempre alegremente lotados. O Paris, com decoração da Sonia Rykiel; a Brasserie, com frutos do mar, os bares, onde há shows de jazz de quinta a domingo. Quem supervisiona todas as cozinhas é Philippe Renard, chef que tem uma estrela no Guide Michelin.

Dica para o café da manhã, que chega a confundir, de tantas estações: escolham os ovos mexidos, deliciosos. E claro, as baguettes, pães, croissants. Nem provei os doces, estavam lindos.

Vista da cama da suíte Eiffel, favorita dos casais em lua-de-mel

O Lutetia tem representação no Brasil, na X-Mart, liderada pela Marisa Viana.

Hotel Lutetia

45, Boulevard Raspail / tel 01 49 54 46 76

X. Mart (Rio de Janeiro) (21) 2249-0588