Heloisa Aline
A partir dos anos 1980, a indústria da moda floresceu em Belo Horizonte e a cidade se tornou um polo de confecçíµes reconhecido nacionalmente. Quase 40 anos depois, ela não perdeu o posto de referência do setor e continua como centro lançador de tendências, atraindo a atenção de lojistas de todo o país. Nada mais natural em reconhecimento a essa importância que houvesse um espaço para preservar a memória da moda local. Assim, foi aberto o Museu da Moda de Belo Horizonte – MUMO, o primeiro museu público destinado à atividade no Brasil, iniciativa da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte por meio da Fundação Municipal de Cultura. O endereço, o belo prédio com estilo manuelino da rua da Bahia, 1149, conhecido como Castelinho da Bahia, onde até então funcionava o Centro de Referência da Moda – CRModa.
Para a inauguração está programada a exposição = 33 Voltas em torno da terra – Memória da Indústria Têxtil em Minas Gerais, que destaca a indústria têxtil mineira e sua importância, contribuindo, não só para as economias locais, mas interferindo também socialmente e culturalmente nelas. O nome chegou através do questionamento de “Quantas voltas em torno da terra são necessárias para uma indústria de tecido atingir 168 milhíµes de metros quadrados de tecidos por ano garantindo o crescimento sustentado?â€.
Recorte – No contexto histórico, a mostra faz um recorte, priorizando o enfoque no tecido – particularmente o algodão e a tecelagem plana -, elemento base de sustentação da indústria da moda. Aberta ao público do dia 6 de dezembro a 30 de maio de 2017, com entrada franca, a exposição conta com a curadoria do professor Antonio Fernando Batista Santos, doutor em Artes Visuais e coordenador do curso de Design de Moda da Fumec, pesquisa da historiadora Doia Freire e projeto expográfico do arquiteto Alexandre Rousset. “Essa história será contada por meio de mapas, gráficos e vídeos e a cenografia de cada sala, composta por instalaçíµes, remeterá o público a uma fábrica de tecidosâ€, ressalta o curador. Acervos da Cedro Têxtil e do Museu das Artes e dos Ofícios – MAO, emprestados para o evento, contribuem para criar esse clima, juntamente com a iluminação assinada pela Interpam.
“Para a Cedro, que tem o algodão como principal matéria-prima, é muito gratificante compartilhar parte do seu acervo nessa primeira exposição do Museu da Moda, uma iniciativa que valoriza a cidade, a história e todo o mercado. Esse resgate ajuda a vislumbrar o quanto avançamos ao longo de nossa trajetória de 144 anos para chegarmos ao patamar atual, como uma das principais indústrias da moda hojeâ€, comenta Marco Antônio Branquinho, presidente da empresa.
Origem “O projeto do Museu da Moda surgiu há sete anos, no Museu Histórico Abílio Barreto – MHAB, quando começamos a juntar coleçíµes de diversos períodos da história da cidade. Em 2012, nasce o Centro de Referência da Moda que agora, transformado em museu, terá, além do acervo guardado no MHAB, sua própria reserva, e poderá abrigar mais peçasâ€, explica Leônidas de Oliveira, presidente da Fundação Municipal de Cultura – FMC. Segundo ele, “um museu moderno de moda deve falar do acervo e da vanguarda e sua força para o setor faz parte dessa política – guardar, proteger, divulgar e fomentar os novos profissionais da área, que encontram no amparo da cultura um lugar essencial para a pesquisa e desenvolvimento da moda e além dos negócios. Tudo isso dentro do macro projeto da FMC e da Belotur de incentivar a indústria criativaâ€.
Durante os últimos nove meses, a Comissão de Criação do Museu da Moda de Belo Horizonte, formada por profissionais da instituição, por consultores da FMC e colaboradores da sociedade civil, se reuniu para elaborar o plano museológico do MUMO, tendo como base o bem-sucedido trabalho realizado pelo CRModa. “Trata-se do planejamento estratégico do MUMO para os próximos cinco anos, no qual consta sua missão, visão, valores, além dos programas e metas. Esse plano museológico tem sido o instrumento mais utilizado pelos museus para a gestão, o planejamento e o controle das açíµes da instituição, além de reunir todas as suas informaçíµesâ€, enfatiza o museólogo da FMC, Victor Pinheiro Louvisi, integrante da comissão.
Pesquisa e informação Marta Guerra, gestora do CRModa desde a sua inauguração em 21 de novembro de 2012, “acredita que o Museu da Moda de Belo Horizonte será um lugar de discussíµes, pesquisa e informação do conhecimento, da tecnologia, que terá em seu cerne a liberdade, a criatividade, a sustentabilidade e o livre acesso como bases essenciais para uma nova ordem social, construída com solidariedade e cooperação, não somente para a comunidade da moda, mas para toda a populaçãode Belo Horizonteâ€. Esse é também o pensamento de Leônidas de Oliveira: “A população, com seu museu, poderá acompanhar tudo de forma democrática e ampla, formando público e conhecimento para a cidade do que é a moda, do que ela significa e de sua importância para Belo Horizonteâ€.
FOTOS CLAUDIO SANTOS / Acervo da Cedro Têxtil: homenagem ao algodão
E mais / dá até uma invejinha rosa, ver que Minas sai na frente com o Museu da Moda. Quando houve a celebração pelos 35 anos do Grupo Mineiro da Moda, já ouvi histórias maravilhosas sobre o acervo que estava sendo recolhido. Como as famílias guardam as peças por geraçíµes, os diversos hábitos de vestir das elegantes / o acervo deve ser lindo, e esta expo da Cedro ganhou mais estilo, com o trabalho de conceito, iluminação e design da mostra / um bom motivo para visitar Belo Horizonte. Que, aliás, lidera em matéria de museus: basta lembrar do deslumbrante Inhotim, a cerca de uma hora de BH / este texto é da colega Heloisa Aline, que atua na assessoria dos eventos importantes da capital mineira