Primeiramente, o mérito principal. Quantos estilistas mereceram filmes biográficos? Yohji fez um documentário, Saint-Laurent deu uma entrevista emocionante para a TV francesa. Givenchy ficou famoso pelos figurinos de Audrey Hepburn. Mas ninguém da moda, com exceção de algumas modelos de destino trágico, teve a vida pessoal transformada em roteiro de cinema. Gabrielle Chanel é a grande vitoriosa deste filme.
Depois, a diretora, Anne Fontaine – que não é a mesma franco-brasileira que assina a grife especializada em blusas brancas -, que também merece palmas pela interpretação sóbria, da vida um tanto rocambolesca da órfã que virou estilista, dentro de um cenário elegante, com o encanto de locais europeus e uma direção de arte impecável.
Para quem não muita intimidade com o universo da moda o filme deixa alguns pontos no ar, talvez as mudanças da história pareçam bruscas. Para quem já tem uma meia dúzia de livros e circula no restrito mundo dos desfiles internacionais, não há surpresas, está tudo ali. Tudo, antes da fama. Só no final, quando a atriz Audrey Tatou (de Amelie Poulain, le,bram?) aparece sentada na escada da loja na rue Cambon, de tailleur de tweed branco, se tem a noção do poder de moda da ex-chapeleira e cantora de cabaré.
Os figurinos de Catherine Leterrier são primorosos – atenção às cenas de bailes e festas na casa de Etienne Balsam -, as imagens combinam a arte da época, como as obras de René Magritte, referência para a cena da primeira visão da praia com uma bela reconstituição de estilos, mostrando a diferença que Chanel fez no guarda-roupa e no conforto do dia-a-dia das mulheres. Ela nos livrou dos espartilhos e das plumas excessivas e abriu caminho para as simples roupas de malha jérsei e o querido vestidinho preto.
É um filme de moda, que deve ser visto por quem gosta de cinema.
Ah, queriam saber mais? Torçam para que Marilia Pera volte aos palcos com a peça Chanel, para ver o que era o dia-a-dia e as atitudes da estilista.