Normalmente este título se aplica às nossas andanças em busca de gente que sabe (ou não) se vestir. Aqui, trata-se de quatro coleções que desfilaram no coração de Ipanema nestas últimas semanas. A base, a multimarcas Opinião, da Juliana Erthal, que faz uma curadoria afinada, privilegiando trabalhos autorais. As marcas, a revitalizada Frankie Amaury, a Tóia, Kundalini e Denise Faertes. A organização, do Alexandre Schnabl.

Veluma desfilando para o povo

O conceito, um desfile na esquina, com plateia em pé, um tempo razoável para não cansar as madames. No primeiro dia, tudo certo, com boa luz. Já no segundo, a confiança no dia claro perdeu o visual fotografável, porque não havia luz de passarela e a iluminação da butique dava um contraluz que sombreou as modelos. Fora isto, quem quisesse ver melhor as peças, entrava na Opinião depois do desfile e via tudo de pertinho.

Aproveito a matéria que publiquei no jb.com.br e descrevo cada marca:

Kundalini, no block print

As estampas em block print, os carimbos indianos

Nos anos 1990 a jovem Claudia Gaio morava em Nova York. Mas sonhava em ir para a Índia.

“Não sabia de nada, já curtia ioga, meditação, e só. Comprei a passagem mais barata, sem prestar atenção em rota, companhia aérea, escalas. E lá me fui de Pakistan Airlines, com parada em Frankfurt e no Cairo para enfim chegar a Bombaim (na época. Agora a cidade se chama Mumbai). Cheguei e me apaixonei pela Índia”

Além do encanto pelo país, Claudia começou a trazer acessórios para vender no Brasil. “Vendi muitos lenços para MaraMac, Maria Bonita, Animale. E descobri em Jaipur o processo de estampa com block print, uma espécie de carimbo milenar”. Foi o que Claudia, que abriu a marca Kundalini, mostrou na tarde de quarta-feira: roupas em algodão, com flores e o tradicional padrão Paisley ou Cashmere, típico indiano, em azul turquesa, verdes, tons de joias em modelagens amplas ou transpassadas, do tipo que veste bem todos os tipos físicos. Como a estampa é artesanal, são muito próximas da exclusividade. Os preços começam em R$ 700. E agora, 15 anos depois, Claudia Gaio trocou a Pakistan Airlines pela Emirates ou pela Qatar Airways, quando vai supervisionar pessoalmente os efeitos do block print.

Frankie Amaury, versão Renata Veras

Final da coleção Frankie Amaury

Mais uma vez elogio o trabalho de designer de Renata Veras, que está revivendo a grife Frankie Amaury. A primeira peça do desfile na passarela externa já valia a espera (curta) em pé na rua: um longo de couro marrom-chocolate, um impacto de elegância. Mas vieram camisas daquelas que vestem todos os tamanhos e idades, conjuntos de shorts ou bermudas e a dupla com referência em Paco Rabanne (o tio Amaury adorava o estilista espanhol, segundo a sobrinha Renata), um top e um longo de pastilhas de couro. Sem falar na complementação, com as cobiçadas mochilas, que começam a parecer imprescindíveis nos closets antenados. “Um destaque, que o Amaury também gostava, é a jaqueta com estampa de coqueiros nas costas e uma listra colorida, só de um lado”, lembrou Renata em entrevista um tanto emocionada e lacrimosa por parte das duas, repórter e designer, lembrando do Amaury Veras…

Denise Faertes, o que era?

Seleção da Denise: é tudo pintura!

A Denise Faertes (ex-marca Fruta do conde) provocou um efeito de dúvidas. Era muito bonito. Mas o que era aquilo? Bordado, pintura, colagem? Quando passou a última modelo com uma sereia ondulando na frente de um longo preto, corri atrás da Denise para saber do que se tratava. E veio a história:

“Esta capa foi minha tese de mestrado em Milão. Reúne todo tipo de amuletos brasileiros, judaicos, da kabala. Sou engenheira, mas queria fazer Arte. Já fiz figurino de novelas, participei do coletivo Carandaí25”.

A informação mais importante: as roupas são pinturas sobre tela branca. Não fica um milímetro em branco, os temas misturam dadaísmo, surrealismo, Art Déco, referências como a árvore da vida, religiões, sereias. Uma pintura perfeita, lisa. Nas obras da Denise, cada peça tem forro – alguns de onça -, bolsos externos e internos. E porque a base da moda da artista é a alfaiataria, aprendida em Milão.

Como se não bastasse, além das peças pintadas, que são reproduzidas por encomenda em cerca de 15 dias, há uma linha de passamanarias entremeadas com frases bordadas e fitas, costuradas uma a uma. E alguns adoráveis vestidinhos pretos, de alças quadradas, para usar com  colares extravagantes e incríveis sapatos coloridos.

Os gatos da Tóia

Seleção da Tóia

No intervalo, passa uma suposta convidada com um vestido com estampa de gatos, em seda. Quase abordei, para saber de onde era, de tão bonita ela estava. Nem deu tempo: no que começou o segundo desfile, era um dos modelos da coleção da Toia, da Ana Vitoria Lemann. Como artista plástica, ela tem o privilégio de selecionar obras que poderiam estampar crepes e sedas, roupas fluidas, misteriosas, cheias de surpresas. Um chemise tem um inesperado coulissé na cintura; um longo pode ser em camadas de tecido, a noite estrelada é a estampa de um dos looks de calça, em azul. Azul-noite, claro. “Este se originou de uma colagem”, explicou Toia.

Alguns acessórios

Mochila e sacola Frankie Amaury

 

 

 

 

 

 

 

 

Pensam que quando o desfile acabou foram todas para casa? Nada disto: além de terem ocupado a caixa para pagar compras das peças escolhidas, as convidadas voltaram para curtir as delícias da Malu Mello, a chef dos lagostins citados no início. E ela já aceita encomendas de ceia de Natal. Outra personagem, a DJ Palomma, animou a esquina com muito Daft Punk.

Fotos Ines Rozario