Enquanto Raf Simons questionava o sistema de desfiles e de semanas de moda, nos bastidores do show Dior, do lado de fora fervilhavam coleções de todos os tipos e origens. Na tenda que parecia uma montanha de flores azuladas, em um dos pátios do Louvre (a Cour Carré, palco de glórias de Marc Jacobs na Louis Vuitton) o desfile mostrou um estilo mais suave, em cores claras. Sem deixar de lado as bases deixadas por Christian Dior, como os blazers ajustadinhos, a alfaiataria ultrafeminina, em preto e muito branco. Esta tem sido o destaque das propostas do belga Simons, o respeito ao DNA original da grife mais parisiense e ao mesmo tempo mais internacional da moda. Há uns cortes em pontas nas barras das saias e um toque cropped nos tops que completam ternos. Mas a cada desfile Dior atual sente-se saudades do John Galliano, que fazia do show um espetáculo pelo qual valia a pena fazer as malas. E também saudades do Raf Simons como designer da Jil Sander, a marca alemã pertencente ao grupo Prada, onde ele arrasava com um minimalismo impecável e ditava a cartela e a combinação de cores da temporada.
O desfile está em https://www.dior.com/couture/en_int/womens-fashion/ready-to-wear/spring-summer-2016-ready-to-wear-fashion-show2
Ali perto, em um segundo andar na Rue Saint Honoré, passando pelo agito do lançamento de algo por Pamela Anderson na Colette (sinceramente, meu espírito jornalístico não chegou ao ponto de querer saber se era um livro, um CD ou um sutiã XXXXG), encontrei a Maison Michel lançando…chapéus! Cada um mais interessante que o outro, porque a marca cria desde a fôrma até a faixa que decora a copa. E tem inspiração, como qualquer coleção que se preze – são coisas da rua, de trabalhadores. Um capacete de obra vira um boné, os gorros de tricô têm aplicações de placas de segurança, as viseiras imitam aquelas usadas por operários que lidam com maçaricos, a faixa acobreada das copas imita os cintos de segurança.
E mais grinaldinhas com orelhas de gatinho, várias versões de listrados em preto e branco (muito forte este padrão. No Brasil, a Casual Street e a Zibba já estão lançando), modelos bem verão, em tiedye colorido e grandes abas mescladas de azul e branco. Quem quiser ficar diferente pode adotar o chapéu de tela com copa quadrada.
Chapéus listrados da Maison Michel (foto Ines Rozario)
Aba quadrada, larga, com a vista da rue Saint Honoré pela janela
Grinalda rendada, para noivas gatinhas
Capacete de operário vira acessório da Maison Michel
E cintos de segurança inspiram as faixas dos chapéus de feltro
Este é um dos muitos show-rooms individuais ou coletivos, sem falar nos salões e feiras que preenchem espaços nos hotéis de luxo da cidade. Há mostras de designers finlandeses, moda de ateliê de russos, romenos e indianos, coquetéis para apresentar acessórios italianos. Sem falar na joalheria, com novíssimas idéias.
Momento make na Dior (foto divulgação)
O que pode estar incomodando o Raf Simons? Difícil saber. Pode ser o fato destes eventos paralelos atraírem convidados excluídos de seus desfiles, justamente aqueles que talvez venham a Paris com a disposição de comprar novidades para seus negócios. Mas Dior pode dispensar esta platéia, porque investe muito em perfumes e beleza. Tanto que, antes mesmo de chegarem as fotos do desfile, recebi um lindo material sobre a beleza do show, muito rápido. Lindo, mas não abriu para ser postado, parte veioem pdf. Nemsempre a moda acompanha as novidades da tecnologia. Vamos aguardar as fotos certas.
E o Alexander Wang, heim? Durou três anos em Balenciaga. Até que saiu bem, com a coleção toda em branco ou off-white, muito look lingerie, rasteirinhas de renda. Já rola o frisson da substituição no circuito da moda parisiense.