Isto é que é desfile! Isto é que é platéia! Como comentou a Mariana Mack, modelo da 40 graus, “tenho certeza que nunca desfilei nem vou desfilar para uma platéia tão grande!” Moda e samba se reuniram no desfile da Porto da Pedra, na noite de segunda-feira, na Sapucaí, Rio de Janeiro. Foi bonito? Foi rico? Nem vou responder, porque de onde eu estava, tudo foi lindo, animadíssimo, organizadíssimo: tive o privilégio de participar da Escola de São Gonçalo, sentadinha como integrante de fila A no último carro, onde desfilavam as modelos. Vamos por partes:
A chegada: surpresa – a Sapucaí tem estacionamento, farto e a R$ 20, preço fixo, muito menor do que um taxi. Estaciona-se e segue-se a horda de gente vestida de vermelho e branco, as cores da escola, pela Presidente Vargas. Ao longo da avenida e do mangue, estão enfileirados os carros das escolas que desfilam em posições pares (a segunda, a quarta, etc). As ímpares ficam do outro lado do Sambódromo, junto ao prédio conhecido como balança-mas-não-cai. Os fantasiados mais importantes chegam de calção e regata, porque as roupas cheias de babados estão em sacões plásticos, de lixo. É muito contraste, não é? Para entrar na concentração, há uma grade, onde integrantes da escola liberam a entrada dos participantes. Sem filas, nem bagunça. Lembrei tanto da entrada de certos desfiles de moda…e olhem que são 4 mil pessoas!
Aos poucos, surgem os conhecidos. Beto Neves, o responsável pelos convites ao povo da moda, que ajudou o carnavalesco Paulo Menezes a reunir estilistas, modelos e editoras. Willed, assessor e consultor, de leque vermelho – a Porto é vermelha e branca, como meu querido Salgueiro. Giovani Frasson, da Vogue, Jacimar, da Luminosidade, Alessa, vestida de mulata, impagável. Ronaldo Fraga, de camiseta listrada e calça branca, sapato de bico fino branco, lindão este novo malandro. Lenny, toda de prata do ingles Matthew Wiliamson. Carlos Tufvesson, pronto para se acabar, Jum Nakao. E Beto Neves pra lá e pra cá, comendando seu grupo.
Os repórteres procuram os estilistas para entrevistar. Aí é que nos damos conta de como são desconhedcidos da maioria. Nenhum repórter sabia como era o Ronaldo, o Victor. Mas a gente ajuda os colegas, claro. Até por vício profissional.
A subida: como subir no carro? Duas opções: de escada de pintor ou de cadeira. Bota o pé na cadeira, senta na beira do carro e gira, fica em pé. Uma certa acrobacia, mas pelo menos não foi o elevador do Carvalhão. Nossa, é uma caixa que enche de gente e é levada por um guindaste, que é o próprio Carvalhão. Destaque aparece, mas sofre.
O lugar das editoras fila A é em cadeiras forradas de preto, como nos eventos. Só que são presas no piso – adivinhem por que? O carro estremece todo, estrebucha para todos os lados. Se as cadeiras não são fixas, ia ser um tal de gente rolando para a pista, de salto alto e tudo.
A saída: impossível não se emocionar com o foguetório que anuncia a saída da concentração para a pista branca, onde a escola é assistida por quem pagou e por quem julga. Todos cantam o belo samba, um dos mais bonitos da temporada, que associa a moda à arte e à felicidade. Todos mesmo, incluindo os modelos. Tadinhas, elas têm a missão de desfilar nas minipassarelas nas laterais do caro. Sergio Mattos deu as ordens: “é desfile, nada de dançar e cantar!” Cada passarelinha tinha 3 modelos para revezar, cada um que saía, depois de fazer cara de nada, como exige a moda, caía no samba e cantava, dentro do carro. Um detalhe à parte. Estavam lindas, com roupas de impacto. Um longo do Tufvesson, todo em tiras pretas semidescosturadas era de aplaudir de pé. Os arranjos de cabeça, riquíssimos. Os saltos, altões. Foi um casting super-profissional. A lindeza, além de natural, era realçada por craques como Farache (que se divertiu fazendo do spray uma alegoria), Claudio Belizario, que trocou os camarins de Milão e Paris pela Porto da Pedra, Anderson Vescah, o stylist, fantasiado de pirata, todo de paetês em preto e branco. Do lado de fora, Marcelo Hicho conta que está desenvolvendo modelos de grinaldas e semijóias para noivas. Depois eu mostro. Que turma competente. E vamos nós, sacolejando!
A avenida: não tem jeito, pode ser sambódromo, passarela do samba, que todos continuam chamando de avenida. Vamos chacoalhando, atrás do belo carro em homenagem a Chanel e aos estilistas internacionais, um padrão meio Tiffany’s, de vitrais em preto e verde. Quando faz a curva, para entrar na avenida, lá está o Joãosinho 30, olhando tudo, de cadeira de rodas. Caramba, como as arquibancadas são próximas e altas. É olho no olho, mesmo. De repente, o carro para: o salto alto do boneco representando o Clodovil trancou na grade da entrada. Um portodapedrense segurou, ajeitou, o motorista do carro desviou um pouquinho, e passamos. Tudo isso, em pânico, todos cantando sem parar.
Dentro do carro, a maior animação. Nunca pensei que o meu caderninho de anotações (do Gilson Martins) fosse virar uma espécie de tamborim. Heloisa Marra, Marcia Disitzer, Liliana Rodrigues, das que estavam do lado esquerdo, ao meu lado, mostravam que existe samba até sentado. Na frente, a modelo Marcia Britto homenageava Alexander McQueen, com túnica de cetim amarelo. Gregorio Faganello, Mauro Taubman (como ele gostava de carnaval), Simon Azulay, Dener, Clodovil eram alguns dos nomes em neon na fachada do carro.
O ritmo aumenta, vamos rápido, e a platéia acena. Vi gente de outras escolas aplaudindo, bacana. E puf, acaba. Hum, não tem escada de pintor nem cadeira de plástico. Descer como? Ora, nos braços de um fortão da LIESA. Na hora, pensei que deveria ter feito um spa antes do carnaval, mas me senti uma pluma carregada pelo atlético.
Rápido, rápido, sair dali, porque daqui a pouco chegam os carros de outra escola. Sair para onde? Por que não acreditei que havia estacionamento? A info é seguir para a estação Estácio. Léguas de caminhada, junto com Jum Nakao, que pretendia pegar o metrô também e seguir para o Calipso, em Copacabana. Outra boa surpresa: metrô vazio, com ar condicionado. Policiamento e pessoal da Liesa por todo o caminho. Nenhum cheiro de xixi em lugar nenhum.
Na saída na estação General Osório, uma foto daquelas típicas do Evandro Teixeira, o pessoal emplumado da Magueira entrando pelas escadarias, colorindo a estação de rosa. Fiz o flagra, modestamente. Depois, muito photoshop.
E a fome? E a sede? Beleza, uma loja de sucos estava a postos, com aqueles salgadões que parecem caviar depois de tanta festa. Um suco de laranja honesto e fim.
Transcrevo agora os dois lindos refrões da Porto da Pedra, que podem servir de título para muitas pautas deste ano
Eu sei que a arte caminhou
Modéstia a parte encontrou
Na moda a luz da emoção
Em cada estilo, uma expressão
Porto da Pedra eu sou
Eu sou o amor desta cidade
Pro samba que você me convidou
Eu vou vestir felicidade
Intervalo / hoje terça-feira, já saiu o bloco A Rocha, na Gávea. Sem xixi, sem gente bêbada abusada, esguichos de água, fantasias engracadas – garotas de taxi, de noiva, de Minnie, um trio segurando uma cordinha, com a placa área Vip, caras de fraldão, etc / saio desabalada, quando já estão na fente do meu prédio. Daí, a demora em postar a Porto da Pedra / nem é bom comentar, mas o carnaval do Rio está organizado, sem perder a graça.
As fotos ainda não entram, estourei o espaço com os eventos de moda