Mais do que ver as cores, os comprimentos e as traduções das tendências, um evento deste tipo deve conter histórias. Adoro ouvir a origem das coleções, o por que de cada tecido, a justificativa das mudanças.

Ou ver a continuidade do estilo, como acontece com a Alessa, por exemplo. Esta coleção de alto verão confirma o caminho tradicional da Alessandra Migani: estampas, cores e formas democráticas, capazes de vestir praticamente todos os tamanhos. Os tecidos pesados garantem a queda estreita, sem risco de volumes indesejados, mesmo nos quimonos estilizados, amarrados na cintura. Depois dos barrocos de igreja vistos nos desfiles de verão, chegam padrões mais tropicais, borboletas, florestas, costelas de adão.

 

Caftan em estampa de coqueiros, uma das linhas de alto verão da Alessa

A CCM, marca líder no ramo da fitness, fascina pelos materiais e estampas. A inspiração mexicana vai levar cores fortes para as academias. Mas há mais usos para os tops, vestes, leggings – eles completam looks urbanos, na boa. Como as peças em jeans com muita elasticidade, bem lavadão. Ou os leggings em wallpaper, um tecido que disfarça a celulite, em 10 cores. Ou o Emana, outro fio que também ajuda a reduzir as celulites. E a malha de bambu, macia como pele de bebê. Precisa mais? Ah, sim, sai a linha infantil, para as menininhas que querem sair iguais às mães e tias. Para o verão, a escolha fica entre 50 estampas de verão, mais 30 do alto verão.

 

A modelo Rachel Drodowsky, com regata da linha mexicana e a legging em wallpaper, da CCM

Rony e Paula Antunes criaram a Botswana, uma das campeãs de vendas desde os tempos do Fashion Business. O estilo identificado com o jeito carioca agrada no país inteiro – são 14 lojas e 700 pontos de venda! Na coleção de alto verão e fim de ano, nota-se o luxo dos bordados. Muito bordado. São peças que marcam uma nova etapa da Botswana: a importação. Parte da produção vem da Ásia, provocando as várias idas e vindas para o outro lado do mundo. A criação e a peça-piloto são feitas aqui no Brasil, mas a produção é made in China. Só assim, para conseguir que uma regata bordada custe R$ 129 no verão.

 

A modelo Jacqueline com vestido de alcinhas, bordado com linha dourada na barra, da Botswana

Caminhando pelos corredores, quase na hora de fechar, vi que a Eva (o feminino da Reserva) aposta nos vestidos longos para o verão. Que a Mara Mac assina mais um verão elegante. O chapéu de panamá se renova também no colorido, na Aba Chapéu, que importa os modelos feitos de acordo com seus pedidos, do Equador. Camila Klein aposta nos pratas envelhecidos.

As novas cores da Aba Chapéus

Fotos Ines Rozario

E mais: na mesa-redonda que abriu o evento Rio pela Moda, algumas semanas antes do salão Bossa Nova, vários empresários de moda contaram que não conseguem mais costureiras. No evento InspiraMais, em São Paulo, ouvi que não há mais ninguém que saiba bordar miçangas no couro.

Quer dizer: é preciso se render ao fato de que não somos mais um país produtivo na moda, com exceção de alguns heroicos artesãos. Somos um país de criação e design, como a França, a Itália, a Bélgica, a Alemanha. Importante é investir nas marcas, fazer um marketing adulto e deixar a mão de obra por conta de países que ainda conseguem formar profissionais e ter preços baixos. A que preço? Difícil saber.

 

Salão Bossa Nova – de 29 a 31 de julho no hotel Royal Tulip em São Conrado (Rio de Janeiro)