Impressionante. É o comentário mais imediato sobre o começo das semanas de moda no hemisfério norte. O primeiro exemplo é o salão Pitti Uomo, em Florença, que começou no dia 10 e acabou na sexta-feira 13. Os primeiros comentários na redes foram sobre a pouca importância do salão, porque o streetwear era muito mais impactante, o que os visitantes estavam vestindo, porque as propostas das marcas eram apenas comerciais. Apenas um desfile, da Martine Rose, valia a pena pela originalidade. Não foi bem assim, o Pitti Uomo mostrou muita força nos lançamentos.
Martine Rose
Quem acompanha as coleções italianas sabe da elegância quase tradicional, das referências na alfaiataria e nas origens (como em Dolce Gabbana, por exemplo, que quase sempre pensam na Sicília). Aí, você vê a figura da Martine Rose, descabelada, cheia de cachos e frizz, de camisetão, sem make nenhum. Ok, John Galliano também não era nenhum modelo de tradição. Mas chega o momento do desfile. Nada de super homens no elenco. Senhores, dançarinos, garotões comuns. Nos looks, a expressão do que vai acontecer daqui pra frente: nada de combinar peças, nada de desprezar roupas antigas de boa alfaiataria, nada de pensar muito na hora de vestir. Há extravagâncias para a mídia e as redes sociais, como o casacão fofo rosa. Mas tem mais impacto o senhor magrelo gesticulando, de terno.
Outra questão surpreendente. As roupas lembram brechós. Brechós de luxo, já que uma peça da Martine Rose no site Farfetch um mocassim chega a custar mais de R$ 7 mil. Uma camiseta com um coelho na estampa, R$ 1.992 na liquidação
Jan Jan Van Assche
.Este belga de 43 anos confirma a vibe da Martine Rose. Descabelado, ativo nos últimos retoques nos camarins, assinou uma coleção de planejamentos, cores sombrias, envelhecidas em peças que parecem familiares, mas vestidas e propostas em atmosfera sem glamour. Aliás, nem precisa de glamour, tal é a beleza do conjunto. Uma apresentação que valeria a viagem até Florença. Porque além da moda do Van Essche, a escolha do local foi uma amostra da sempre maravilhosa Florença. Chegou a dar inveja de quem estava lá.
Nas ruas
Afinal, o que foi a moda dos visitantes? Uma continuação do espírito de conforto que dominou estes quase três anos (na revista New Yorker não se cita mais a pandemia. Preferem dizer que algo deixou de acontecer “por razões óbvias”). Moletons e sobretudos coloridos, echarpes monstruosas, calças largas. Nada que se comparasse com os ousados conceitos da Martine Rose e do Jan-jan Van Essche.
Agora, aguardemos a semana de moda masculina de Milão, iniciada no dia 13. E ansiosamente conferir a inspiração prometida nos desfiles femininos de Paris, no fim de fevereiro: Coréia do Sul!