Tenho vindo ao DFB Festival há alguns anos, ao longo das edições cultivei favoritos, claro. Procuro seguir toda a agenda de desfiles, correndo da sala 1 para a 2 (calculei cerca de 500 lugares cada uma). Em geral, me alegro com o povo novo, raramente acho que alguém se descuidou do conceito ou da produção. Mas desta vez…
Vamos aos shows:
Concurso do universitários: na primeira seleção o trabalho do SENAC Sergipe, desde os leotards completamente rebordados e coloridos até os cabelos, presos em rabos em bolas, se destacou. O tema religioso da FB Uni trouxe belas variantes de possíveis noivas, com grinaldas ou auréolas feitas de peneiras. A Santa Marcelina usou o tema Matula nos looks cheios de informação, destacando panos de crochê com pérolas aplicadas. Elas se desprendiam, deixando um rastro de pérolas na sala. Acontece, são alunos que começam a decifrar a confecção.
Banana Urbana: uma ótima estreia, inovando no jeans com tingimento, detalhes em tiedye desbotado. Desde a base do cinco bolsos até o vestido curto, de saia de babados, o que não é jeans tem a interferência do dourado, como no bucket em ouro fosco. Destaque: o look de skate
Hand Lace: outra novidade excelente, com jeito no limite do clássico, mas inovadora nos vestidos e saias quase aventais, as peças trabalhadas em triângulos recortadinhos, os biquínis cavados com sutiãs estruturados e cavas altas. Destaque: o modelo com alças largas cruzadas nas costas
David Lee: como é bom acompanhar uma evolução séria como deste cara vindo de comunidade, que investe em Arte como inspiração ou informação para quem assiste. Até agora (ainda temos a agenda de hoje, sábado) foi a melhor ambientação, despertou a curiosidade de saber o autor dos stabiles e dos chapéus móbiles, feitos por Narcelio Grud. Lembrei da arte cinética do Abraham Palatnik, nestas horas agradeço ao professor Mário Barata, na faculdade de Belas Artes.
David usou crochê em sutiãs femininos, muito amarelo nos looks masculinos, aplicou pingentes coloridos em calças. Só estranhei a camisa listrada masculina com um buraco no meio: seria para exibir tatuagens? Maravilha, os tops de cabeça, movimentados como móbiles.
Theresa Montenegro: outra estreante, já com experiência de loja própria. Definiria o desfile como inesperado. Começou simples, com saias minis, tons de rosa, terninhos com aberturas na cintura. De repente, pirou! Mostrou uma série lembrando Paco Rabanne, um lote de bodies rebordados, colados no corpo, longos também luxuosos bordadissimos! Acho que o fato de ser varejo deu esta liberdade diversificada à Theresa.
Kallil Nepomuceno: fiquei meio perdida com o trabalho deste que é um dos meus favoritos. A edição sem coerência misturava masculinos de tops com pérolas com a estampa de quadrados estilizados, coloridos nos conjuntos com esvoaçantes capas, no meio quase nem se notava o hoodie em listras de crochê ou o paletó amarelo com bermuda. E no final, Kallil me aparece de bermuda! Nem sei o que eu esperava, mas queria o Kallil que sempre declarei que era uma boa razão para vir para Fortaleza.
Olê Rendeiras: o que você imagina como técnica de rendeiras? Renda renascença, richelieu, bilro, filé. Daí, que este foi o desfile mais difícil de descrever, quase me atraquei com as modelos para ver se entendia como as peças eram feitas. Pantalonas, vestidos em losangos, um casaco lindo, bege com barras castanhas. Na saída, a pergunta era unânime: era renda, crochê, tricô, afinal? Depois alguém me explicou que o fato da marca se chamar Rendeiras não impedia que fizessem outras técnicas. Então tá, né? Seja o que for, deu certíssimo.
Mais alcance: No princípio, Cláudio Silveira queria focar na moda autoral e nos novos. Nesta edição, depois de dois anos de isolamento, o Dragão abre o caminho coerente, incluindo o Giga Mall no evento. Em 2023 este será um grande shopping de atacado, em Messejana, a 15 minutos do centro de Fortaleza. Um passo que vai incluir um espaço para a moda autoral mostrar suas propostas junto com grandes marcas.