Isabela faz a feira

Cerca de 400 quilos de frutas e legumes deram o ar natural à passarela de Isabela Capeto, um espaço embaixo da marquise da Bienal, no parque do Ibirapuera. A Natureza deu origem a roupas em sedas, linhos e algodíµes, decoradas com miçangas de madeira e complementadas com brincos e os colares e brincos com pingentes feitos em chifre. Tudo natural, simples, como seria de esperar da estilista carioca que revolucionou a moda brasileira com o uso do artesanato em alto ní­vel. Para o verão, a intenção era reencontrar a própria essência. Esta é a intenção, o que não invalida a atenção aos materiais atuais. “Não há como fechar os olhos aos avanços da ciência”, comentou na apresentação. E dê-lhe celulose e poliamida, misturadas às fibras naturais, fazendo insetos de resina, inserindo tiras de borracha entre os fios de couro nos sapatos.
Esta introdução serve para marcar a campanha ecológica em que a moda está empenhada. Quanto às novidades da Isabela, independentes de conceitos ambientais, mostram coerência com o espí­rito revolucionário e independente. Pode-se dividir em duas seçíµes o que foi visto nesta manhã: os vestidos, montados no patchwork em barras de diferentes estampas floridas, entremeadas com continhas acobreadas, ou tipo envelope, floral, com barra e decote em tule laranja enrolado e o modelo em verde-jade, com mangas trabalhadas em casa-de-abelha, com mais continhas aplicadas. Parece complicado, muito detalhado? Então, vamos ao segundo módulo: o patrocí­nio da Levi´s rendeu uma excelente série de calças e jaquetas rosadas, decoradas com cobre, com flores e insetos bordados nas pernas, a ponto de tornar irreconhecí­veis as peças básicas da marca de jeans mais famosa do mundo. Ao mesmo tempo, Isabela avisa que bordados, aplicaçíµes e temas ingênuos como flores e abelhinhas, tudo, tudo continua firme na nossa moda.
Nos acessórios, outro lado emblemático da marca, destaca-se a mudança dos coraçíµes flechados, que passam do metal prata para o chifre. Nos sapatos tressês, melhor ficar com as sapatilhas do que com os escarpins, que não calçavam bem, saí­am dos pés das modelos.
Em matéria de bolsa, nada menos orgânicol do que a sacola listrada de vermelho e branco, feita de puro fio poliamida, que resiste às compras na feira. Feira mesmo, aquela com barraquinhas de frutas, legumes, o peixeiro, os biscoitinhos, a banquinha de temperos. Foi o brinde da platéia. Saí­ram todos carregando sua sacola, sí­mbolo da moda de Isabela Capeto, que sabe misturar o natural e o sintético em prol de um lindo visual.

Rodapé / enquanto rolam os desfiles paulistanos, Heloisa Caraballo avisa pelo celular que o desfile de Alta-costura da Dior será dia dois de julho, às 20h, no pavilhão L´Orangerie, no Palácio de Versalhes, seguido de uma festa black-tie. Luxo é isso / o circuito da moda parece com o da Fórmula-1, a agenda está cada vez mais lotada. Na semana que vem começam os desfiles masculinos em Milão e Paris, em agosto é Madri, com mais uma edição do SIMM (Salão Internacional da Moda de Madri). Só julho ainda abre para férias. Isto é, fecha para a moda, porque ninguém agüenta o calorão no hemisfério norte / mais uma vez se comenta o boato do afastamento de Paulo Borges do dia-a-dia da São Paulo Fashion Week. Uma das hipóteses seria o cansaço de lutar contra a falta de grandes patrocí­nios, depois da saí­da da TIM, outra envolve o ideal de trabalhar em torno de um setor anterior ao das confecçíµes e marcas, que é o da tecelagem. Paulo tentaria fazer pelo setor têxtil o que conseguiu com os manufaturados: união, coerência e prazos adiantados, para atender aos que fazem o produto final. Uma etapa perigosa, porque o evento é muito ligado ao empenho e carisma do Paulo. Ele tem circulado menos, até por problemas familiares, porque sua mãe faleceu no primeiro dia da semana de lançamentos.