Tem que ver a Farm

Poucas vezes recomendo assim, tão abertamente, um endereço comercial. Mas a Farm da praça Nossa Senhora da Paz merece, pela qualidade do projeto, a graça da coleção e principalmente pela coerência profissional.

O projeto: assinado por Bel Lobo, surpreende por eliminar o andar térreo, dispensar vitrines e permitir modulações infinitas no subsolo. De março até julho deste ano todas as tubulações foram refeitas. As colunas espelhadas refletem a luz do dia, é um ambiente tão bonito à noite quanto de dia.
Quem vai provar roupas, entra em cabines com quatro canais de música, com opções entre dance/house, slow music, mpb e estilo Farm. Telinhas funcionam como lookbooks da coleção.
São 300m2 de espaço, com cantinho para a ainda tímida linha Home (caderninhos, canecas, camisolas e necessaires), um grande balcão para a caixa, onde a clientela se serve de biscoitos Globo e trufas, enquanto espera a vez de pagar. Ao lado, embaixo da escadaria, outro balcãozinho onde são montadas sandálias Havaianas, com palmilha exclusiva (R$ 34), do 33 ao 39.

A coleção: tinha que ser algo especial. A abertura da loja foi recheada com modelos favoritos da Katia, resultados de uma viagem com toda a equipe de estilo para a Tailândia. Um colorido que já virou típico da Farm, com muito verde, roxo, preto e branco. Tem saruel de cotelê com fios prata, saruel estampado (R$ 139);

um look com camisa xadrez (R$ 208), coletinho trabalhado (R$ 345); camisão branco (R$ 102); minissaia jeans (R$ 142) e legging (R$ 45)
As regatas de alcinhas custam R$ 42, as ribanas, R$ 26, são ítens de coleção para as cariocas.
Pode ser que as turistas achem ruim saber que no Rio uma peça que custa R$ 139 deve chegar aos outros estados por R$ 164. Esta diferença de preços deve envolver frete, impostos, estes detalhes. Bem, mais um motivo para vir fazer as compras na bela flagship da Farm de Ipanema, Rio de Janeiro.

A história: nas muitas conversas com Katia Barros e Marcelo Bastos ouvi a história da marca. Marcelo era sócio do Nésio, pai da Katia em uma distribuidora de revistas. Katia era consultora de grandes firmas. O trio decidiu mudar de vida, e trabalhar com moda. A primeira experiência foi um franquia da Mercearia, marca paulistana. Mas a loja vendia pouco, não tinha a cara do Rio, e Katia começou a confeccionar peças que ela mesma inventava. E que vendiam, mais do que as coleções da Mercearia.
O próximo passo foi fechar a franquia. Pagaram o que deviam, ficaram praticamente quebrados. Quando conheceram a Babilônia Feira Hype, Katia decidiu que era ali que iam vender. Levou uns quatro modelos de body para o Robert Guimarães e para o Fernando Molinari. Este foi o começo da marca (que nem nome tinha, nesta época. Para elas, Farm lembrava a rua Farme de Amoedo, em Ipanema, tinha a ver com Mercearia, era um nome fácil), dentro de um box de 4 metros quadrados. Logo, havia filas antes da feira abrir, uma kombi fazia as vezes de estoque, no estacionamento. Para atender às trocas e a quem queria comprar nos intervalos da Hype, abriram uma salinha na rua Francisco Sá, em Copacabana. Mais filas nos elevadores do prédio, que ficava no posto 6, completamente fora do circuito de compras.
Este foi o começo muito curtido, muito divertido para Katia, Marcelo e Nésio. Sem estas primeiras batalhas, a Farm não teria a estamparia própria, não bateria recordes de vendas no shopping Iguatemi, de São Paulo, nem estaria abrindo filial em Barcelona.
É uma história marcante na moda brasileira.