Casa dos Criadores

fotos Ines Rozario

Se existe um evento com identidade, depois de 10 anos de atuação no difícil mercado de moda brasileiro, é a Casa dos Criadores. Aconteceram crises financeiras, problemas de estrutura, e o intrépido grupo dirigido por André Hidalgo resiste bravamente. Tanto que chega aos 10 anos, à 22ª edição, com louvor. Só deixou para trás o primeiro nome, que era Semana da Moda (porque Hidalgo notou que confundia com a São Paulo Fashion Week) e o visual punk/retrô/hypado do diretor, que atualmente porta um impecável terno e cabelos curtos, sem um centímetro de arrepio.
Este Hidalgo renovado conseguiu montar o show com R$ 1 milhão, graças a um ótimo grupo de patrocinadores e apoiadores. De qualidade, além da típica apresentação gráfica e cenográfica, e a localização no Centro de Convenções do shopping Frei Caneca, endereço acessível no emaranhado do mapa de São Paulo. Esta edição de aniversário de década inclui o Clube de Estilo, show-room com excelentes marcas, que incorporou os talentos inovadores do evento.

A vantagem da cobertura on-line é a possibilidade de contar tudo – ou quase tudo -, sem as limitações de espaço. Se a leitura ficar cansativa, troca-se de site e deixa para ler depois. Então, começamos pelos desfiles do primeiro dia.



Ash
A estampa grafitada, muito stêncil, borrões e figurinhas agrupadas de boquinhas marca o trabalho em jeans e malha moleton, sarja ou plush da dupla Guil Macedo e Roberto Leme. Blusões masculinos ganham as versões com tintas fluorescentes, usados sobre bermudas justas ou sungas. As garotas vestem modelos tipo quimono e macaquinhos bufantes. Na complementação, colares e brincos de raios de plástico em cores fortes.
Conclusão: é, a tal da moda praia saiu mesmo das areias. Ninguém duvida que rapagões de sungas grafitadas cintilem sob as luzes negras das pistas de dança da cidade


Thiago Marcon
Dentro das exigências de design do momento – formas soltas, vestidos curtos e estampas interessantes -, e com uma inspiração que rende história, Thiago apresentou uma coleção de forte apelo comercial. Sem looks exóticos, apenas modelos de cabelos lisos e longos, escarpins e sandálias altas, vimos que as personagens de Maurício de Souza podem ser bem aproveitados em produtos fashion, sem resultados infantis. A turma do Penadinho virou estampa em preto, branco e cinza nos maxiblusões; Mônica contribui com o famoso vestido vermelho e Cascão é lembrado nos xadrezes das saias curtas. No mais, é uma alfaiataria moderninha, jovem e urbana, para meninas de pernas e cabelos longos
Conclusão: Thiago buscou nas tendências góticas previstas nas tendências, com muita originalidade. Além de Maurício de Souza, incluiu Buffy, a caça-vampiros, o filme Fome de Amor e Lost Boys.


Diva
Primeiro, Ricardo dos Anjos caprichou nos cabelos e rostos branqueados, coerentes com o clima barroco proposto por Andrea Ribeiro Sakavicius. Ao som da Ave, ave Maria, o dourado barroco de leggings e segundas-peles deu a base para vestidos de rendas e tafetás em vermelho granada, com laços e cinturas baixas. Muito bonito, rico e com uma aproximação da moderna costura, explícita no vestido Flor, montado em pétalas de tafetá vermelho.
Conclusão: Diva é uma solução para quem precisa de roupa de luxo. Tipo festa, casamento, ocasiões importantes. Muito bom o trabalho da Andrea


Walério Araújo
Quem diria, o esfuziante Walério, que só anda de saltos altíssimos, sobrancelhas impecáveis se transformaria em estilista mais do que cult. Agora, este cara que praticamente participou de todas as Semanas de Moda, representa um estilo conceitual que atrai marcas como a poderosa Swarovski ou as casas de aviamentos de São Paulo, como o Palácio das Plumas, que forneceu quilos de plumas em tons de cinza, ou a Arte Couro Gomes, que desenvolveu os deslumbrantes couros metalizados das calças colantes masculinas multicoloridas.
As modelos como Eliana Weirich ( à esquerda) e Michele Provenzi desfilam felizes para ele, lindas como destaques de Carnaval ao som de Taí, manejado pelo dj Zé Pedro. A linha Crystallized da Swarovski contribuiu para desenhar biquínis em trompe l’oeil sobre vestido ou macacão preto, e no meio do show fantasioso, surge um singelo vestido de seda com textura de cobra, em tom gelo.
Conclusão: viva Walério!

Tudi Cofusi
Um caos? Deorganizado

? Que nada, faz parte do espírito improvisado, artístico e inesperado da Casa dos Criadores. A Tudi Cofusi (foto no começo do texto, uma confusão), anunciada como uma interferência na primeira noite do evento, apareceu primeiro como um trio estrambolicamente fantasiado, enrolado em quilômetros de fios e cabos, sem êxito: o equipamento não funcionou. Pelo som da sala, soubemos que a culpa era da mesa da marca. Então, era uma marca. Um desfile depois, na segunda tentativa, deu bcerto. E era mesmo uma marca, com um desfile caótico e divertido, completamente descoordenado, de leggings, camisetas, regatas, muita cor e brilhos, maquilagem apalhaçada, impagável. Pode vender pouco, ser desprezada pelo mainstream, mas a Tudi Cofusi tem coragem e graça.
Conclusão: evento tem que ter gente assim, mais show do que intenções apenas comerciais.

Gustavo Silvestre
O fim da primeira noite tirou a platéia do conforto das cadeiras para apreciar o luxuoso estilo do Gustavo em uma sala ao lado. Modelos em pé, como manequins de vitrine, vestiam casacos amplos, bordados, em tecidos luxuosos, em cores do Maracatu de Pernambuco.
Conclusão: pode ser que o maracatu tenha inspirado o Gustavo, mas ele poderia ser comparado ao Romeo Gigli dos bons tempos, nos anos 80. Muito bom, e uma prova que evento alternativo ou de novos criadores não precisa ter jeito pobre

Apoios e patrocínios

Até os patrocinadores merecem ser conferidos na Casa dos Criadores. Primeiro, a Puma, que se instalou em um espaço cercado de colunas de madeira enformadas, meio design anos 60. Ali, a marca alemã que se diz dona de um lifesportstyle ou stylesportlife, como quiserem, mostrou desde os novos tênis Urban Mobility, de bicos quadrados, opção com velcro, forma alongada, até a bicicleta vermelhinha e a linha de bolsas com compartimentos de notebook ou bem femininas, com flores decorativas. Sempre, em cada modelo, está presente o puma que pula. O marketing é poderoso, induz a desejar um tênis da marca.

Tão institucional quanto os celulares, que andam pegando carona na moda, é a campanha da Brastemp. Depois de encomendar portas de minigeladeiras a estilistas da São Paulo Fashion Week, atacou outra turma de formadores de opinião. Além de estilistas, jornalistas e modelos posaram para fotos de André Passos, Debby Gram, Rafael Assef e Telma Villas Boas com roupas do acervo da Casa dos Criadores. O motivo: lançar três novos modelos de geladeiras, cheias de tecnologias funcionais, como o serviço de água gelada do lado de fora da porta ou um timer para congelar diferentes tipos de alimentos. As cores seguem os padrões da moda: turquesa, magenta, coral ou preta. Sonho de consumo certo, com ou sem foto de formador de opinião na porta.

……..to be continued