AcomB
Beto Neves trabalhou, trabalhou, quase desanimou, e afinal conseguiu montar a colecão da AcomB – A, de Ação Comunitária e B, de Complexo B, a marca do próprio Beto. Concentrou o estilo nas estampas de casinhas, montanhas e mares, uma vista bem carioca; usou o talento das bordadeiras nos decotes com listras multicoloridas, lembrando as raízes africanas. Alinhavou tudo com a experiência de alfaiataria, na Complexo B. E juntou com a garra das moradoras da Cidade Alta, da Maré, do Degase, meninas que sonham em ser modelos como Gisele ou estilistas como Marcia Ganem ou Isabela Capeto, mestras no artesanal.
Em geral, dá medo do resultado, em um evento oficial, cheio de analistas e críticos impiedosos na platéia. Pode ser que alguns narizes tenham se retorcido, por oposição a misturar moda, este assunto seríssimo, que às vezes se distancia da realidade, justamente com a pobreza, a vida real, a falta de sofisticação. Pode ser, mas se a apresentação de Kina Mutembua e a orquestra de Berimbaus foi um pouco longa, ainda assim foi inegável a vibração que trouxeram à sala. Abriram caminho para os minitailleurs, as saias rodadas, as batas com golas bordadas, o vestido com listras bordadas, cada uma assinada por uma menina, vestido pela Kate, mulata eleita como a personagem da coleção pelo Beto.

A trilha com Elza Soares (by Zé Pedro) resumiu o espírito da AcomB: dar a volta por cima, quero ver quem dava. Este grupo deu a volta por cima de muita coisa, na vida. Do Beto, às meninas do Degase e das comunidades. Para elas, um sapato que cai do pé, na Passarela, é chutado longe , para não atrapalhar a pose em frente aos fotógrafos.

Intervalo / tem uns momentos meio malas nos desfiles. Como os convidados que comentam o desfile inteiro, tiram a concentração de quem tem que analisar as peças / ou os animados, que batem os pés, com força, ao ritmo da música / e por fim, os que, mal acendem as luzes, perguntam o que se achou. Querem o quê? Dá vontade de dizer – odiei.