Fashion Rio
Dia 8 de junho de 2008
A latinidad predominou nesta noite. É o pretexto para indicar que o verão terá cores mais alegres – rosa, vermelho, laranja, amarelo-limão, azul, verde -, mesmo que o preto continue sendo uma base. Mas nota-se que pelo menos até agora, o cinza deu uma sumida! Não era para sumir, ainda, segundo as previsões: deveria vir mais claro, mais frio, mas estaria presente, principalmente na malha chic e nos linhos. Vamos ver o que acontece até o final da semana.
Por enquanto, deu México na cabeça, muita nostalgia dos anos 60, e o eterno toque oriental que Walter Rodrigues não abandona.
Thaís Losso
Thais saiu do container. A estilista que já emprestou seu bom-humor à Cavalera, Zapping e à Sommer, decidiu finalmente abrir a marca própria. Estreou aqui no Rio, com um desfile feminino e colorido, recheado de vestidos rodados, com barras de anáguas estampadinhas por baixo, mangas bufantes estampas e bordados florais. As meninas de cabelos longos e crespos, em todas as cores de pele, homenageavam a personagem Bete, a feia, da novelinha mexicana. Nenhuma era feia, tudo tem limite, ora. O desfile foi no meio da praça formada pelos containers, onde estão expostas as coleções da Muggia, Soul Seventy, Thais, Rita Wainer e os lindos figurinos em Tyvek (ou não-tecido) criados por Lucinha Karabtchevsky e Claudia Koepke para a ópera Fidélio. Todos em preto ou branco, e claro que perguntei se este material agüentou uma temporada. “Agüentou duas semanas, e algumas peças que estavam guardadas desde 97, feitas para Orfeu, de Monteverdi, estavam perfeitas”, respondeu Lucinha, dentro do seu container todo forrado de branco.
Santa Ephigênia
Lindo, a começar pela sala. A Ipanema, a menorzinha de todas, foi arrumada com cadeiras de platéia de alta-costura em torno de uma rotunda coberta de hera, com aberturas-portas por onde saíam as modelos. Uma espécie de Chanel herbal. As roupas, lembrando os anos 60 e 70, pelo colorido alegre em istrado desencontrado, nasceram na cabeça do Luciano Canale depois de uma conversa com Glorinha Paranaguá. No tempo em que ela era embaixatriz, foi a um piquenique de domingo dos Rotschild, nos arredores de Paris, e descreveu as maravilhas da festança. Dalí, Luciano tirou os chapéus de abas largas, confeccionados por Denis Linhares, as sandálias coloridas, em vários materiais, da Roberta Wright, e fez um mix de Copacabana com Paris, uma nostalgia que resultou muito bem em saias de estampa toile-de-jouy bordada com pérolas de diversos tamanhos, em tules com desenhos cashmere bege, também rebordados com pérolas. Como definiu Luciano, o tal piquenique inspirador deve ter sido um domingo bem dimanche.
Uma fofura, a microbolsinha de alça de corrente, feita pela Glorinha.
Virzi
Que bom que a Marcella assumiu de novo seu lado teatral e culto! Ela preparou a platéia para uma coleção fofa, muito colorida, ou no mínimo, de lenços nas cabeças. Nada disso, era só uma resposta estratégica para desviar a atenção. O que se viu, na passarela com boca-de-cena decorada com um labirinto de grama (um maze, para os ingleses), a bailarina Danielle Rodrigues, da cia. Deborah Colker postada ao fundo, e belos vestidos, saias e blusas montadas em tiras dobradas, que deram volumes murchos, muito modernos. Verdes, rosa, azuis estão entre as cores. Das matriochkas, viu-se o galão de rosas, aplicado em um retângulo na frente de um casaquinho ou na lateral de calças.
Nos acessórios, destaque para os colares de cristal e pedras. No final, Danielle saiu dançando e se equilibrando nas sebes
Totem
Mais um ângulo dos anos 60, vistos por Fred d’ Orey. Mais precisamente, 1968, com a Tropicália, as passeatas, o auge dos Beatles. Bia Lessa incluiu figurantes portando espelhos em direção à platéia, segurando faixas com fotos de manifestações e poemas de Wally Salomão, dançando e tirando a roupa, para lembrar Hair, o musical-ícone da época.
Engraçado, logo a Tótem, que sempre é tão colorida, começou em cores mais calmas, estampas em preto e branco. Mas as formas aqueceram, com os jeans skinny/boca-de-sino, os bolsões de couro franjado (dos primórdios da feira hippie), os vestidos curtos e soltos, com desenhos geométricos. Muitoa boa foi a parte de tricô, com listras em ziguezague em tons claros sobre fundo cru. Um exemplo, o vestido de Bruna Tenório, com alças de couro. Ao som de músicas de Caetano, Gal, Mutantes e Beatles, o desfile acabou com um casamento hippie, com flores de metal em vez de grinalda e buquê, o suposto noivo com um belo blazer de linho azul.
Walter Rodrigues
Walter voltou a desfilar, voltou ao Rio. Trouxe uma Audrey Hepburn com inspiração chinesa, depois de uma viagem feita pelo estilista em março. Nada de quimonos ou trajes marciais. O que se viu: vestidos estreitos, shape ajustado, decotes tomara-que-caia, saias pouco abaixo dos joelhos. É o único comprimento elegante para uma saia justa, afinal.
Quase todo em preto, o desfile mostrou a faceta típica do Walter: saber lidar com novos materiais e dar funções sofisticadas para materiais técnicos e práticos. Como os elásticos da Hak, que formaram um vestido inteiro, em verde-fosforescente. Ou o incrível laminado de PVC preto, da Bannypel, empresa de couros com quem Walter desenvolve coleções em couro. O lado Couture foi satisfeito pelos bordados de temas chineses em clássicas con tinhas e miçangas, canutilhos e plumas. Até as franjas foram bem resolvidas, com fios longos presos na barra da saia, retorcidos até o decote.
Enfim, a noite que começou coloridona, acabou se rendendo ao preto, nas lindas propostas do Walter Rodrigues