Maratona da SIMM

Mais uma vez, em Madri. É a 60ª SIMM (Salão Internacional da Moda de Madri) – notem bem, sexagésima edição! Só por isto, tem que respeitar. Além de saber das modas hispânicas tenho um motivo extra para vir: o país homenageado é o Brasil. Vem gente de todo o país, e muitos do Rio, graças ao empenho do Sebrae, da Abit, Apex. A seleção carioca ou fluminense (já que há marcas de outras cidades do Rio) é muito boa, porque inclui moda-moda, além dos grupos artesanais e trabalhos de comunidades.
Nem vou listar todos os que vieram, porque muitos desistem na última hora (como a Renata Veras ou a AdPac, que peninha). Amanhã conto mais. Mas ressalto a importância de ter moda e design, além das comunidades: nossa originalidade e identidade não deve se limitar a esta eterna oferta de modelos que parecem significar pedido de ajuda às comunidades ricas. Mesmo nossas cooperativas artesanais já entendem esta diferença, basta acompanhar a sofisticação das úlltimas coleções da Coopa Roca, ou ter visto o último desfile da Apoena, no Fashion Rio: havia muito estilo e bom, nas duas.
Uma pena que desta vez não vieram nem a Lucidez, que sempre traz boas propostas e me parece que vende bem. Nem a turma de moda praia de Cabo Frio.
Esta história de participar de eventos, sejam nacionais ou internacionais, depende de perseverança. Todos que já vieram para os salões da Europa e Ásia aprenderam que só se começa a tirar pedido na quinta vez que se participa. Deve ser um investimento bem planejado, desde a coleção adequada até a própria viagem. Muita gente se hospeda em grandes (e caros) hotéis nas primeiras vezes, gasta fazendo esticadas turísticas e depois volta reclamando que não vale a pena. Aí, não vale mesmo. Por mais que seja preciso impressionar a clientela, vale mais fazer uma viagem estritamente profissional, com custos baixos, do que aproveitar a temporada para gastos extras.
Além dos brasileiros, a feira deve ter outros pontos fortes. Tenho que ver a ala das noivas, setor em que a Espanha é campeã; a moda de Portugal, principalmente a masculina; as malharias italianas. E os desfiles que incluem moda praia e lingerie, para ver como se compara a feira de Madri e o Prêt-à-porter de Paris, que pretende tomar o espaço na agenda que era de Lyon, e antes, de Monte Carlo.

Intervalo / ainda não é exatamente intervalo, é a viagem. Nunca voei num jumbo tão mal formatado, tão apertado na classe econômica. Também não entendo por que a Air France insiste em botar o jumbo antigo nesta rota, que deve ser lucrativa, porque está sempre lotada. Um vôo de 10 horas sem telinha de jogos é desprezo pela clientela. Principalmente assídua como eu e outros que têm que viajar várias vezes e escolhem a companhia porque gostam dela. Nós sabemos que o Airbus que sai à noite (este era das 16h20, horário ótimo, porque chega cedo) é muito mais novo, tem telinha. Custava pelo menos botar um boeing 747 mais novinho? Ou no mínimo, com mais espaço entre as cadeiras? / a última queixa: e aquele pãozinho gelado, do café da manhã? Duro que nem pedra / ah, tem mais uma. Quem vem de Air France e faz conexão rápida para Milão, Madri ou Amsterdam, antes de embarcar deve fazer um intensivo de preparo físico para enfrentar a meia maratona nos terminais. Por exemplo: o vôo do Rio chegou em Paris às 7h50 da manhã. “Oba”, pensei, “vai dar para pegar a conexão das 9h30 para Madri, tranqüila”. Ilusão, quanto ao tranqüila. Primeiro, demora-se para sair do avião. Depois, saem as 500 pessoas que estavam dentro dele, e engarrafam na entrada do tubo de acesso ao aeroporto. Com uma escada rolante no caminho, que também engarrafou, todo mundo se atropelando no alto da escada, um horror. Depois, é a corrida, com uma esteira desligada, do terminal 2D até o 2F, dando a impressão que está indo a pé para Paris, de tão longe. Nisso, os olhos ficam presos aos sinais de banheiro pelo meio do caminho – nada disso, é sem pipi, não há tempo. A fila da polícia, enorme, com interrogatório para cada jovem que passa. A fila de segurança, enorme, com caixinhas separadas para cada ítem: bolsa, computador, telefones, necessaires. A esta altura, já esbaforida, estava conformada que tinha perdido o vôo, que em tese deveria chamar às 9h. Ah, mas tudo se resolve. O vôo atrasa, o embarque começa às 9h40! Beleza, agora se descansa e cochila nas duas horas de vôo até Madri. Com direito a duas bolachinhas de coco e um cafe instantâneo quentinho / Chegada em Barajas, aeroporto de Madri. A bagagem demora meia hora para entrar na esteira. Tempo suficiente para que um gafanhoto se instale na ponta do meu carrinho. Irrrgh, gafanhoto! E sabem que não era verde, como costumamos ver? Era um mestre do mimetismo, porque tinha um tom acinzentado, igualzinho ao piso de granito do aeroporto. Eeeeca, que medo. Ridícula, estava batendo com o carrinho na beira da esteira e fazendo ssshhuuuu, para ver se o bicho se mancava e ia embora. Até que um companheiro de esteira, depois de sugerir para esmagar o bicho com a mala (eeeeecccaaaa!), pegou uma revista e bateu no inseto pulador. Pulador, não: aqui, eles voam! Sei lá, tinha cara de gafanhoto, pose de gafanhoto, mas era cinza e voava. Eca, eca, mil vezes / bom a esta altura, devo lembrar que o Dutyfree do Rio estava glorioso, bem iluminado, cheio de produtos interessantes. Que a banca tinha revistas e balinhas, o banheiro estava limpo e o atendimento no check in foi super-amável. Ah, e o piloto parecia até que tinha sido da Varig. Quando havia um sinal de turbulência, dava uma aceleradinha, em vez de ficar à mercê dos ventos e cumulus nimbus. Não acendeu o sinal de apertar os cintos nem uma vez durante o vôo. Que foi apertado, mas foi bom / o hotel é de novo o Miguel Angelo, em frente à estação de metrô Gregorio Marañon. Bom, grande, internet diária por 15 euros. Só hoje descobri que tem uma piscina soberba e um spa famoso no terceiro subsolo. Descobri porque estava escrito no elevador, provavelmente como sempre não vai dar tempo nem de dar uma olhada lá.