Vestido com bordado Talli, da Bishara
sapato finlandes
sapato Pring


Ivana Helsinki

A semana parisiense de desfiles começou quente, no sentido climático do termo. Céu azul, 20 graus, só para contrariar os convidados e credenciados que chegam do mundo todo, cheios de casacos nas bagagens. Normal, já que Milton dos Santos, brasileiro residente em Paris, comentou que o frio andou pegando feio por aqui, há poucos dias. “Minha cor estava tão branco-escritório, que fiz umas sessões de UV para melhorar”, comentou diante da surpresa dos amigos de platéia quando viam seu bronzeado. Milton vem de uma maratona de trabalho, pois recebeu um grupo de marcas brasileiras que integraram uma ala no espírito do Fashion Business, dentro do Salão do Prêt-a-Porter. O resultado da empreitada foi muito bom, já que os brasileiros venderam para lojistas de várias cidades francesas. Alguns venderam até o mostruário. No próximo Fashion Rio a rota se inverte, marcas francesas participarão do Fashion Business. “Não vamos levar nem lingerie nem moda praia, setores que o Brasil domina e lidera. O foco será no glamour, que é o que todos esperam da moda francesa”, anunciou Milton.

O evento Rio Summer, organizado por Nizan Guanaes no Rio, em novembro, desperta a curiosidade da imprensa que cobre o circcuito de desfiles internacionais. Até agora ninguém do grupo de fotógrafos que está sempre a postos nas salas dos shows foi convidado. Alguns perguntam a razão do possível comentado convite a Kate Moss, para desfilar ou assistir. “Não é para mostrar a moda do Brasil para o mundo? Por que convocar a Kate?”, perguntou um francês, encarapitado sobre sua maleta de equipamento, antes de um dos desfiles de hoje, sábado.

Mas vamos a algumas coleções desta semana que começa. O que se exige de uma apresentação, atualmente? Que seja bonita, rápida e conte uma história. Como fez Marie Bishara, que concentrou a criação em linhos, algodões, jérseis e sedas, tecidos para modelos de cortes simples, curtos e ajustados, ou com drapeados enfeitados por águias bordadas no contorno dos decotes. E contou histórias do Egito, através de bordados com pedras semipreciosas e turquesas, aplicações de flores do Nilo, bordados em fios dourados ou prata, na técnica do sul do Egíto, chamada Talli. Hieroglifos e chaves da vida foram motivos freqüentes na decoração dos modelos. Nas cores, desfilaram na bela sala da Escola do Louvre os areias do deserto, os turquesas, dourados e os esverdeados dos tesouros egípcios.

Marie Bishara contou sua história, sem apelar para excesso de fantasia. As modelos eram claras, de cabelos alourados, longos e ondulados; sem sombras azuis ou traços negros nos olhos. Nada de franja de Cleópatra, apenas algumas sandálias rasteiras de tiras amarradas nas pernas (que teimavam em desamarrar) lembravam os trajes do Nilo. Os sapatos eram Pring, nome de uma beldade asiática nascida em Bancoque, sediada em Paris, com estudos de dança em Berkeley (Califórnia), que chegou portando seu cachorrinho e distribuindo folhetos da marca. Bom, tem que dar um jeito de segurar estas tiras, Pring. Os outros sapatos eram interessantes, com solado vermelho (estilo Louboutin) e adereços lembrando Prada.
A coerência do show chegou à trilha, que de vez em quando alternava o ritmo de desfile com árias da ópera Aída, que é passada no Egito. Ainda bem que a história acabou aí. Os elefantes, tradicionais na encenação da ópera, não entraram na passarela.

Outra apresentação quase didática, de tão coerente, foi a de Ivana Helsinki, assinada por Paola Suhonen. O local, surpreendente, demonstrou que a vida em Paris é boa e luxuosa até embaixo da ponte: pelo menos, se for a ponte Alexandre III, onde um conjunto de salas embaixo dos arcos tem sido requisitado para eventos milionários. Lá, passou a lenda russa do Tigre Solitário, motivo das estampas da coleção. A cabeça do tigre, ele inteiro, ou um monte deles, apareceram em diversas técnicas de estamparia da empresa Nanso, fundada em 1921, mas super-moderna, na terra da Nokia. Como Bishara, Paola priorizou modelos simples, a maioria vestidos e túnicas curtas, em algodões eticamente desenvolvidos. Alguns longos, cortados em barras ou com caudas curtas, de alcinhas. Decotes em forma de coração, assimétricos, com babados e modelagens com bojos embutidos marcaram a coleção. Mas foi tigre demais, muita roupa, muita estampa igual. Podia ter sido um terço do que desfilou.
Nos complementos, outra revelação finlandesa, os sapatos Pertti Palmroth, feitos à mão na cidade de Tampere, há 90 anos. O modelo que acompanhou o Tigre foi criado por Pentti, pai do Pertti, em 1930. Foi refeito e adaptado a seis variações com colorido de década de 80.
Outro acessório, a série de colares com pingentes de cerâmica porosa, da Kaipaus. Este material contém nanofrago, elemento que controla a emissão de perfumes. Uma boa idéia.

Há quem seja a própria história, como a portuguesa Fatima Lopes, que celebra 10 anos de desfiles em Paris com uma festa no Folies Bergere. Ou a colega jornalista Suzy Menkes, que nesta temporada ganha homenagem com uma festa e exposição no Museu Galliera, para comemorar os 20 anos de trabalho nas páginas do jornal International Herald Tribune. E a estilista ruiva Sonia Rykiel também faz festão e aniversário, marcando 40 anos a serviço da moda. Foto Ines Rozario