Chanel, sempre
Vale a pena se abalar, voar mais de 10 horas, pagar hotel e batalhar com a rede de internet parisiense, se três convites chegarem às mãos: Dior, Chanel e Vuitton. Claro que é bom ver Margiela (que está saindo de cena), Victor & Rolf ou Stella McCartney. Mas onde vendem, no Brasil? Quem tem loucura para ter algo deles? Só a galera da moda mesmo. Mas os três grandes justificam a vinda. Os outros são bons, mas nem sempre convidam brasileiros. Até pelo motivo de não venderem no Brasil. Deste jeito, não venderão nunca, porque continuam desconhecidos. Quem no Brasil sabe como é a roupa St. Laurent atualmente, se não vive conectado nos sites internacionais, de quem realmente assiste aos desfiles figuras difíceis? Aliás, tenho que admitir que fico passada de ver o sucesso do sartorialist.com. São fotos de gente de rua, o tempo todo. Muito engraçado, às vezes até meio grotesco, vamos combinar. Como se encarássemos a arte feita com reproduções de quadros, pintados por números (isto é, com a interpretação do consumidor) com os originais pintados pelos autores. Mais ou menos isso. Pode ser um sinal de uma redução de interesse na moda de verdade. Talvez já tenhamos acumulado tanta roupa, que não há lugar físico ou mental para novas criações. Então, vamos inventar looks doidos, com o que já temos. Bem, mas Chanel é Chanel, todo mundo respeita. Por trás da marca, o alemão Karl Lagerfeld dá as cartas, desde 1983. Inteligente, sabe atualizar o que a própria Chanel deixou de herança de estilo. No desfile de hoje no Grand Palais, a fachada da loja na rua Cambon, 31 foi o cenário. A coleção veio quase toda em preto e branco, com sinais de lamê prata e rosados. O tailleur clássico ficou mais simples, é mais um top de mangas japonesas em jacquard ou tweed, ou em tecido com grafismos de fitas em metalizados e rosa-seco. Os longos lembram trajes flamencos, com saias de babados dobrados e boleros de toureiro. Ou têm corte diretório, saias pregueadas, com fita preta abaixo do busto. Êpa, de repente pintam umas roqueiras, de bustiê e maiô preto, carregando um estojo de guitarra, em matelassê branco. Ih, as meias imitam leggings curtos pretos. Um macacão preto colante tem mangas –sino entremeadas de rendas. Quatro modelos passam rebolando, com micro vestidos de malha, com decotes ombro-a-ombro. A maioria das modelos carregava uma sacola de compras, vi que está mudando o visual, tem uma grandona, preta, com o endereço da matriz na rue Cambon. É o jogo do prestígio: claro que é muito mais chique comprar lá do que nas galeries Lafayette. Os sapatos escarpin em PU transparente têm saltos altos, grossos e escuros, como as biqueiras. Outros são enfeitados com plumas e pompons, mais para modelo agulha. Ainda reinam as plataformas. Os cabelos ganham arcos de correntes escuras, tufos de tule e plumas. As bolsas 2.55 ficaram maiores, mais retangulares. Os colares de correntes estão em prata escura, bem longos. Valem para homens e mulheres. Cabelos: Odile Gilbert Make: Chanel Som: Michel Gaubert Chanel confirma hits da temporada: os leggings continuam (no caso, são meias, que ficam mais opacas até abaixo dos joelhos), os saltos decorados, os colares longos, que parecem caixas torácicas e as costas com decote nadadora ou em Y. Seção didática: hoje, falamos de como achar seu lugar nas salas de desfile de Paris Primeiro, chegue cedo, se o desfile é importante. Em geral, as salas têm formato de arquibancada, são divididas em setores por letras. O convite vem como: Ad15? Você está no setor A, fila d, lugar 15. Quer dizer, no meio do banco coletivo. Chegue cedo, para sentar no seu próprio lugarzinho Conte com a ajuda dos seguranças de terno. Eles ajudam mesmo Não tem lugar marcado? Espere liberarem a entrada dos convites em pé, ponha-se atrás das arquibancadas, a visão é melhor do que nas últimas filas sentadas. Eventualmente, sobram lugares. Se bater um cansaço de esperar, sente. Atrasou? Por favor, não encha a paciência de quem chegou cedo, tentando passar por cima de bolsas, sacolas de revistas e pernas, para procurar um lugar que nem existe mais. Pior ainda, não faça as pessoas levantarem, para ver se o seu nome está escrito no cartão embaixo das bundas delas. Na próxima vez, se o convite diz 10h30 chegue às 10. O desfile só começa às 11h, mas vale esperar sentada. Muito chato, obrigar os outros convidados a se espremerem para você sentar. Por mais que esteja frio lá fora, dentro das salas faz um calor infernal. As pessoas são altas e grandes, carregam casacos, bolsões e guarda-chuvas. Ainda vem mais uma criatura pedindo espaço?