Chanel faz nevar em Paris

Nuvens de tule penduradas no teto, sala com piso imitando chão nevado, um clima de inverno bem diferente dos 15 a 18 graus que temos agora. Assim quer Karl Lagerfeld, com a coleção Chanel. No primeiro desfile, realizado às 10 da manhã, vimos tradição e novidades. Tradição na repetição dos célebres tailleurzinhos, em tweed desfiado, usados com echarpes e gorros de tricô listrado, o que já dá um ar jovem para os looks de vovó. Novidade, porque os homens finalmente são aceitos como clientes, ganharam direito a imagens no presskit e a várias opções na passarela.
As calças jeans acompanham os casacos 7/8 em tweed, outro look atual, do tipo que as brasileiras amam. Alguns vestidos têm cintos embutidos, com fivelas quadradas. Muitas túnicas, em roxo, com fendas. Japonas e casacos lisos ganham dezenas de broches e logos – outro toque meio hip hop, rejuvenescedor.
Chanel tem clientes que esquiam ou pretendem dar pinta nas estações de neve. Para elas são as calças e anoraks em preto e branco, as botinhas de patinar em couro dourado.
O clássico final dos vestidos curtos em crepe preto veio acrescido de calças estreitas, que pelo jeito vão substituir os leggings, as meias rendadas e as meias-calças pretas foscas. E seguiram-se modelos em amarelo, vermelho-tijolo, com bordados nos mesmos tons. Carol Trentini fechou, com longo preto, valorizando com as mãos para trás o decote nas costas.
Os sapatos têm aplicações brilhantes, como fivelas ou apliques. As famosas bolsinhas matelassês têm cores como turquesa. Outro detalhe interessante é a ênfase nas pulseiras tipo escrava, braceletes de placas coloridas.

Para os rapazes, vale o suéter com manga raglan, hypado pelo lenço de seda amarrado na cintura. Detalhe opcional, claro, para os mais ousados. Casaco de couro caramelo, calças com coating siliconado. Os executivos ficam com o sobretudo em risca-de-giz sobre colete tricô em preto e branco, calça preta. Ou a calça preta, com suéter rulê cinza e um blusão no mesmo tweed dos tailleurs femininos.

Beleza: sobrancelhas retas e pretas. Cabelos chapeadíssimos, lisões, com franjas retas

Fraco: um xadrez de fundo branco, meio toalha de mesa
Forte: tudo (menos o xadrez de mesa). Chanel é sempre uma aula de arte, atualidade e business. O significado da moda atual, enfim.

No final, caiu a neve falsa do teto. Pode parecer antigo, mas sempre funciona.

Intervalo / na saída, aparece André Lima, estilista paraense baseado em São Paulo. Veio para a Europa em busca de detalhes preciosos nos brechós de Londres e Paris. Cortou o cabelo, tirou os cachos. “Estou convencido que nosso caminho para exportação não é através das feiras. Vou descobrir o melhor jeito, talvez um show-room em Londres”, comentou, porque pretende levar a sério as vendas internacionais. Mas está de olho no mercado árabe, mais rico e estável do que a Europa / fomos para o show-room da Daslu, no hotel Plaza Athenée. Lá, predomina o cinza, tanto em minivestidos bordados com paetês prata como em anoraks estufadinhos. Robert Forrest, o inglês que organiza este sucesso, está com Patricia Viera e Glorinha Paranaguá, além da irmã de Mario Testino em outro show-room parisiense