Marras dança o tango espanhol

Iesa Rodrigues

Antonio Marras cria a coleção Kenzo com sucesso há três anos, sempre usando as mesmas fontes do estilista original, Kenzo Takada. Isto é, muitas influências japonesas, como quimonos e estampas de seda, unidas a detalhes de outros países ou regiões. Para o inverno 2007/2008 Marras lembrou do tango. Mais para a trilha musical e algumas palavras de Anibal Troilo no programa, do que exatamente para as roupas. Nelas, é mais evidente a Espanha do que a Argentina. Podia ser até a própria França, já que foi aqui em Paris que o ritmo nasceu. Mas há mais toureiros do que dançarinos, mais saias flamengas do que o modelo com fenda, que agüenta os passos rápidos.
Ok, moda é assim mesmo, um fio de história segura um desfile. A coleção mostrou tailleurs xadrezes, vestido-trench cinturado, ponchos de malha. Este lote, em vermelho e preto, com babados em profusão. O tailleur, assim como os camisões brancos, tem cauda pregueada ou com babados. O que deu um ar conceitual aos looks, porque dificilmente alguém sairia arrastando tanto tecido – a não ser, mais uma vez eu penso, que sejam roupas para o tapete vermelho. Os volumes aumentam as mangas, tanto as bufantes longas como as tipo bolinha no alto, justas do cotovelo para baixo.
Uma lembrança dos pampas pode ser o couro malhado que faz boleros e uma saia rodada. O conjunto de bolero e calça justa, abotoada na barra, todo preto, em compensação, é puro toureiro. Tricô trançado faz maxipulls trançados, com opções em cinza-mescla, azul, verde ou preto. Como bijuteria, notou-se o brinco de argola preta. Nas estampas, destaque para as rosas gigantescas, os tartans de vários clans e algumas listras.
Importante é o colorido, já que Antonio Marras libera o vermelho e fúcsias, segundo ele, “para desdramatizar o preto e branco”. Começou pela larga fita vermelha desenrolada no centro da sala.
Faltava um finale, porque o desfile estava discreto, para os padrões Kenzo. Uma dúzia de bailarinos invadiu a sala, para dançar tango com bonecas de pano. A cortina do fundo abriu (aliás, era um espelho) e revelou as modelos espremidinhas, formando um belo conjunto.
Fraco: babados demais, pouco tango
Forte: uma peça em especial tem cara de best-seller: a suéter listradinha, de gola alta e capuz. Em vermelho e preto ou azul e preto

Intervalo / em todo lugar existem pontos fadados ao fracasso, ou seja, as famosas caveiras de burro. Na avenida dos Champs Elysées, o número 26 é a galeria Elysée, bem no princípio da rua. Perto da Gap, da Zara, vários cinemas. Enfim, tem tudo para dar certo. Só que galerias em geral não funcionam em Paris, e esta, que já contou com restaurante popular turístico, como o Bistro Romain, várias lojas de acessórios e roupas de marcas conhecidas, está tão sem movimento, que o condomínio colocou um cartaz na calçada, do lado de fora. Sabem qual é a atração anunciada? Banheiros! / Uma casquinha do sorvete Bertillon, considerado um dos melhores do mundo, custa a partir de 3 euros (pouco mais de R$ 8)

Tapete vermelho: assim ficaram conhecidas as festas de premiação, que em geral têm tapetes vermelhos estendidos na entrada. Quem começou foi o Oscar, que tem na frente do local de apresentação uma verdadeira passarela, onde desfilam as atrizes com roupas assinadíssimas
Anibal Troilo: cantor e compositor argentino, dedicado ao tango (1914-1975)

Jean-Charles de Castelbajac também dança
O ritmo dele é mais anos 80, com globos espelhados pendurados na sala, Djs da banda Hypnolove animando (ver em www.myspace.com/hypnolove) e cores fluo misturados a alguns pontos fortes do estilista. Por exemplo, ele foi o primeiro a usar xadrez de cobertor em casacos; a botar calças de uniformes militares, em camuflagem com paetês, a brincar com peles fakes, coloridas e estilizar clássicos como o príncipe-de-gales e a espinha-de-peixe. Até a toile de Jouy ganhou uma versão nova, com silhuetas dançando em fundo verde ou amarelo, em terninhos e casacos. Os camisetões são cobertos de paetês dourados e formam rostos na frente; a estampa de quebra-cabeças aparece nas jaquetas e no vestidinho-bola. Crianças de calças douradas, bonés de oncinha ou xadrez e medalhões também desfilaram no clima pop. Pop: é isto, Castelbajac é muito pop.
Fraco: o autor deve se ressentir por não ser reconhecido como homem de tendências. Havia lugares vazios nas primeiras filas, rapidamente preenchidos pelos assessores
Forte: justamente esta lembrança do pioneirismo dele. Mais a integração com os esportes radicais, assinando um skate com as letras JCDC (as iniciais dele) ou um esqui da Rossignol, a maior fabricante de artigos de neve da Europa.

Intervalo / as coleções oscilam entre temas de dança ou reforço de identidade. Melhor, as duas coisas juntas. Ungaro também passou os drapeados das Disco Queens / info turística: Montparnasse é bem interessante, como região. Em volta da estação, há cinemas ótimos, três supermercados, uma Darty (para resolver desesperos de computador), uma Tati, todas as lojas na Torre. O que não estiver por aqui, está na rue de Rennes, em frente. Mochileiros podem ficar por 35 euros no hotel Aviatic, a duas quadras deste centro. Não tem elevador, é pequeno. Mas é barato…