Fotos Ines Rozario

Poucas vezes vi dar certo a união entre trabalhos regionais, governo e moda. Uma destas exceções foi a prévia da quinta Feira da Agricultura, que vai se realizar de 23 a 30 de novembro no Riocentro (Rio de Janeiro). Durante esta semana, os visitantes verão todo tipo de produto trazido por mais de 500 expositores, representantes da agricultura familiar, que formam mais de 90% do setor no Brasil. Teremos desde pimentões e tomates até paçoquinhas, cocadas, palhas, cachaças, licores, sucos e aquela banana passa, entre outras tentações. Mas a prévia, vista na Marina da Glória, aconteceu como um bom desfile de moda, organizado pela Eoysa Simão.

Na entrada, um portal com pencas de berinjelas, pepinos e pimentões com iluminação condizente. Na passarela, criações de designers como Jum Nakao – destaque para a bolsinha multicolorida, de sementes e os colares de sementes com bambu -, Renato Loureiro e seus vestidos em patchowork de flores rebordadas e as bolsas de fibra de buriti, Ronaldo Fraga e as aplicações de pássaros e folhas sobre vestidos brancos e os colares de crina. Também fizeram parte do grupo de designers: Adriana Tavares, Amauri Marques, Fernando Maculan, Heloisa Croco e Virgínia Scolti. As modelos eram quase todas mulatas, havia apenas uma lourinha e uma castanha, para atender ao pedido do ministério, de ter um elenco com a cara do Brasil.
Antes do desfile, ouvimos um speech oficial, assistimos a uma apresentação de um repentista, o Antonio Ribeiro da Conceição, todo de terno branco, vindo da Bahia. Tricoteiras cantaram, na boca de cena.

O quê? Pela descrição parece programa folclórico? Engano de vocês: nunca vi um desfile com estes intuitos sócio-rurais chegar tão perto de um resultado digno de uma mostra para o mundo. Talvez as modelos precisassem de um pouco mais de experiência, gostaria de saber a procedência das peças desfiladas, na hora que passassem. Mas ficou muito bom, demonstrou o poder da moda de realçar belezas e descobrir originalidades.
Tomara que a montagem da feira no Riocentro corresponda a esta prévia. E que tenha muitas bananinhas e paçoquinhas, claro.

Na fila A: dei a sorte de sentar ao lado do Renato Loureiro, querido estilista mineiro, um dos pioneiros do Grupo Mineiro de Moda, dos anos 80. Atualmente, ele faz coleções para apenas 20 lojas-clientes, peças mais intelectualizadas, com produção máxima de 6 a 8 peças por modelo. Mas não é só isso. “Continuo trabalhando com reciclagem, tenho feito coisas com a lona e as esteiras da Vale do Rio Doce. E sigo com diversos projetos profissionais, como a mudança dos uniformes da Localiza. Troquei aquele verde por um tom mais escuro, mais elegante”, contou Renato.
Na saída encontrei o Jum Nakao,que fez colares de sementes e bambu com artesãs de Terra Preta, interior do Amazonas. “Também lancei uma coleção de roupinhas de bebê feitas por bordadeiras que bordam cantando canções de ninar, lá de Santa Rita, na Bahia”.
Agora, por favor, me dêem razão: não é irresistível, saber de tantas histórias? E vocês não viram a desenvoltura do Antonio Ribeiro, cantando e apresentando as atrações da noite. Foi impecável, a prévia dos pequenos agricultores com a moda dos grandes designers.