Sapatos: uma das manias mais comuns do consumo de moda feminino. Dificilmente resistimos a uma cor, um salto que ainda não temos, um modelo que vimos nos pés de alguém com poder de influência.

Este tema tem mudado bastante nas últimas décadas. Aliás, nem são décadas, são anos. Ou seriam meses? Do jeito que as novidades voam, nem vamos falar de tempo.

O fato é que temos uma evolução dividida mais ou menos assim:

Grifados: foi a febre dos assinados internacionais. Começou pelos Manolos Blahnik da série Sex in the City, nos pés da Carrie (Sarah Jessica Parker), foi ao auge com os solados vermelhos do Christian Louboutin e se diluiu nos Jimmy Choos, aos poucos perdendo a força

Grifados nacionais: o melhor exemplo é o Alexandre Birman, que começou o varejo abrindo lojas pelo mundo _ agora já trouxe suas vitrines para o Brasil. Outro que marca pelo investimento em nome e design é Jorge Bischoff. De Minas, sem tanta divulgação, temos a Virginia Barros, com seus modelos em couro, feitos à mão.

Redes: um boom que barateou bastante as escolhas. Mr. Cat, Capodarte, Via Mia, Arezzo, Soulier, Santa Lolla, sem contar as sapatarias mais populares como Di Santini, Pontapé, Sonho dos Pés.

E agora? Tenho que fazer uma comparação múltipla. Por exemplo, a sapatilha Chanel, perfeita e impecável há quase um século. Quem não quer pagar em euros, sem parcelas, na butique da rue Cambon, em Paris tem a opção de ter a sua legítima, por R$ 2.390 no site etiquetaunica. O único risco da compra online é o de sempre: vai que não calça bem? O nosso pé se recusa a viver dentro de uma chiqueza destas? Tenho que contar quer já tive um sonho de consumo: um mocassim de verniz preto da Tod’s. Calcei e descalcei no ato, na loja: apertado na frente! Descurti o sonho, sai feliz por economizar 400 dólares.

Mas deixemos de lado a ética e os preconceitos. Quem pretende acrescentar ao look uma sapatilha de biqueira escura, o cabedal bege, se possível trabalhado em matelassê tem várias opções. Ou melhor, adaptações. Melhor ainda, cópias. Como a da Chiquiteira, à venda no site Dafiti, por…R$ 44,95!

Ah, mas um sapato deste preço não deve ser de couro. Ou tira os empregos brasileiros, porque deve ser feito na China. Ou dura pouco.

Esqueceram que estamos falando de mania, vício, obsessão em sapatos? Claro que uma sapatilha original da Chanel dura décadas. Assim como uma adaptação do Heckel Verri, por R$ 398, dura muito, é de couro, com produção de qualidade. Mas vamos combinar que se um sapato custa R$ 50 pode acabar na primeira chuva, que vale a pena.

No alto, à esquerda, sapatilha Chanel original; sapatilha Chiquiteira. Abaixo, o tênis Chunky da Moleca e a sandália Vênus com textura de peixe, da Ipanema

Este é um panorama atual do consumo de sapatos no Brasil. Impossível desprezar a variedade e a rapidez das coleções da Moleca, uma das marcas da gigante Beira Rio, baseada em Igrejinha, no Rio Grande do Sul. Presente em mais de 60 países, produz todos os tipos de calçados, desde as tais sapatilhas até os modernos tênis chunky (por R$ 99,99 no Dafiti).

Outro investimento que tem dado certo na conjunção de glamour e preço é a Ipanema, marca em princípio de chinelos da Grendene. Logo acrescentou modelos de sandálias assinadas por Lenny Niemeyer, Philippe Starck, Animale. O fato da sandália Venus custar R$ 69,99 não diminui em nada seu valor de produto cobiçável.

Lugar para todo mundo, claro que há (hum, virei mestre Yoda, montando frase ao contrário). As Melissas viraram chiques, abrem lojas incríveis e ostentam endereços nos shoppings do mundo. As Havaianas lançam coleções temáticas, roupas, acessórios, abrem lojas-conceito. São produtos duradouros, com público de colecionadoras.

Mas quem resiste a uma sapatilha de R$ 50, exposta sobre caixas de papelão, na sapataria do bairro? Até se desmanchar na primeira chuva, vai cumprir seu papel de dar o toque de moda nos nossos looks.