O domingo serviu de aquecimento para a semana que lança as modas do verão, em Paris. Como saber o que será a estação, se este começo de outono bate os vinte graus, direto, sem aquele tipico céu cinza-esbranquiçado nem a chuvarada clássica (ainda bem, porque cidade com chuva e neve é insuportável)?
Talvez por estas instabilidades e imprevisibilidades metereológicas, as coleções mantenham peças como o trench-coat. Vai que chove? Neste caso, as adeptas da moda podem adotar os fofissimos trench-coats do Michel Klein, que desfilou no suntuoso salão do Grand Hotel. Michel mostrou uma silhueta de cintura fina e saia rodada, montada em pregas, em variações das capas em dourado, cáqui com tacheados, até sem mangas, sempre com o comprimento pouco acima dos joelhos. Os vestidos seguiram as capas, com estampas de flores rosas, iazes, margaridões, com decotes quadrados, tomara-que-caia ou ombro só, um lado preso com alça passada em ilhós. A parte mais noite se dividiu em longos de grega, com drapeados, vestidos curtos em crochê preto e o que mais gostei, a mistura de regatas e camisetas em malha fina, com saias longas prateadas e um canguru ou bolero de tricô. Um contraste de casual e brilho, muito moderno. Ao fundo, trilha sampleada de James Bond, com Diamonds are forever.

A Anne Valérie Hash transformou o shape de vestido-coluna da Madame Grés, e usou as técnicas de drapeados, retorcidos e nós em modelos em jérseis acinzentados. No fundo da passarela, panos drapeados ondulavam como se ventasse, havia mesmo baruho de ventania. As modelos de cabelos com aparência molhada tinham sombras iridescentes subindo pela testa. Além dos vestidos, há macacões e calças com drapeados laterais e entalhes de transparências. As costas mostram o corpo, com decotes sustentados por cordões torcidos de jérsei. No meio dos tons de cinza e rosa-velho, há um grená muito bonito.

Lie Sang Bong usou o Cubo e o Triângulo como referências, para roupas com volumes geométricos. São vestidos estruturados e macacões, alguns com golas e ombros grandões, superdimensionados. Lembrou o velho brinquedo Cubo Mágico, que voltou à moda, ou os caleidoscópios antigos e também os modernos programas de 3D dos computadores. Parece conceitual demais? Mas Lie, que será embaixador cultural da cidade de Seul no ano que vem, sabe editar bem o desfile. Uma entrada mostra um longo folheado, em tons de azul; em seguida, entra um curto, onde o folheado é representado por estampa nos mesmos tons de azul. Nos modelos de golas ou mangas exageradas há lembranças da elegância de Maisons parisienses. O estilista coreano não esquece do seu país, mas trabalha nos padrões da moda francesa.

Confesso que desconheço a origem da grife Lutz. Deve ser suíça ou alemã, a julgar pelo número de convidados falando alemão na pequena sala do Louvre. E pelo jeito seco da roupa, com uma sobriedade em pretos e brancos quebrada por eventuais vermelhos e movimentada por pregas e panejamentos. Mais uma vez, um trench, desta vez em versão curta, sobre saia grafite.
fotos Ines Rozario

Intervalo / tem menina de shorts na rua. Ou de Havaianas. Que setembro é este? / fechou a loja que vendia miçangas e peças para fazer artesanato, a Loisirs et Création. Que pena. Bom, eu gostava de olhar as contas coloridas, mas nunca comprei nenhuma. Devia ser esta a reação média / parece que estamos no Brasil: a rua é jeans-total. Nunca vi tanta gente usando, em Paris. Os homens adotaram a skinny, direto / o lenço palestino continua nos pescoços. Só no Brasil foi decretado fora de moda / no dia 9 acontece o desfile do projeto Moda Fusion, também no Louvre. Serão 30 looks criados por estilistas franceses e confeccionados por pólos brasileiros