Sério, que tem gente que deveria viver até os 100, no mínimo.  Karl Lagerfeld era um destes, não tinha nada que se mandar com 85. Ainda havia muito a nos ensinar sobre moda, arte, criatividade e bom humor.  Entre os substitutos dos criadores originais das grifes, só ele conseguiu seguir a fundadora,  Gabrielle Chanel, atualizando os ícones da marca, a ponto de continuarem a ser objetos cobiçados por quem curte moda.  Como a bolsinha com alça de corrente ou os sapatos de biqueira escura, sem falar nas sábias variantes do tailleur de tweed.

Tudo isto embalado em desfiles espetaculares durante as semanas de lançamentos de Paris. Ou em apresentações denominadas métiers d’ art, o lado artesanal luxuoso do grupo Chanel.

Receber o convite para os desfiles de março ou setembro era um privilégio, sempre comentei que valia as 11 horas de voo, o preço do hotel e a correria pela cidade.

Não tive Karl Lagerfeld como entrevistado. Por puro bloqueio: sabem estado de fã, que paralisa quando próxima do mito? Apesar de falar algo de alemão e brincar sempre dizendo que falava porque um dia entrevistaria o Lagerfeld,  não foi o que aconteceu.  Fui convidada para um desfile de Alta Costura na loja da Rue Cambon. Como era no segundo andar, subia-se a famosa escada espelhada. Quem subiu ao meu lado, junto, degrau por degrau? Karl Lagerfeld.  Consegui dizer algo em alemão? Depois de um ataque de taquicardia,  saiu um pobre ” bonjour” . Devidamente respondido, com olho no olho, também em francês …

Vai fazer falta, o Lagerfeld.  Muita falta