De repente, depois de ver duas coleções, deu a impressão de uma volta no tempo. Mais precisamente, ao primeiro desfile da Comme des Garçons, lá pelos anos 1980, quando a plateia saiu sem saber o que dizer daquelas roupas amarfanhadas e aqueles rostos com make de hematomas. A sensação é a mesma, depois de ver o que Hedi Slimane fez com YSL ontem e as mudanças do Karl Lagerfeld na Chanel, com o globo terrestre mostrando onde há Chanel no mundo, tipo Google Maps.

O inesperado faz parte da moda, a feiúra à primeira vista também. Depois de alguns meses, a gente acostuma com as novidades e é tudo o que quer vestir e usar. Portanto, vou com cuidado nestes dois desfiles.

 

Primeiro, YSL: um California Grunge, cheio de minivestidos de couro preto, cardigãs de lã cinza, meias de rede e botinhas. Alguns floridinhos, outros xadrezes (para justificar o grunge). E agora, o que dizer? Que isto poderia estar em qualquer C & A, TopShop, Renner, Tally Weil, Dressto? Mas com preços de grife parisiense de luxo! Juro que dá medo, desperta dúvida sobre quem vai vestir, se as meninas ricas já não se vestem assim? Talvez vire moda viral, mas em cópias baratas. E a coleção de verão estava tão linda, tenho visto tantos chapéus iguais aos que desfilaram – prestem atenção, o que pegou foi usar o chapéu. Ok, quem sabe este California Grunge venda muita maquiagem e perfumes.

fotos Marina Sprogis

Agora, Chanel, uma das minhas marcas favoritas, um dos desfiles que me fazem pegar o avião e vir para Paris, só para admirar o trabalho do Lagerfeld. Desta vez, gostei de algumas coisinhas: as perucas-toucas ccoloridas, que parecem capacetes de pelúcia. As bolsas maiores, retangulares, espaçosas, do princípio do show. O final de pretos e tweeds com saiotes e saias mais longas.

O resto foram ombros arredondados, casacos mais amplos, barras em ponta ou com corte quadrado, mais curto na frente, muito, muito, muito cinza e derivados. Sempre com botinhas enfeitadas com correntes finas na frente e meias de um material que parece o antigo cirê ou um couro fininho. Um mix de anos 1970, de Barbarella, 1980, uma tentativa de parecer mais moderno. Um moderno de volumes e arredondados que já derrubou o talentoso Nicolas Ghesquière da Balenciaga – porque ok, fez barulho, mas não vendeu roupa. Chanel tem um espírito ainda mais forte que Yves Saint Laurent. O problema do Hedi é que ele quis seguir o estilo das ruas, como fazia YSL. Só que isto era nos anos 1960, ele era o único a se inspirar nas parisienses. Agora, haja rua para inspirar tantos designers…