Nizan Guanaes ao lado do quadro-negro do Jobi

O melhor desta profissão de jornalista é que se aprende todos os dias. Aprende a escrever, que a língua muda, as gírias renovam e o espaço diminui. Aprende a falar, porque se é convocada para palestras e aulas. Aprende a calar e a ouvir, todos os dias.
Hoje fui a uma aula brilhante: o tema, muito atual, foi o espírito empreendedor. Como professor, mestre Nizan Guanaes, baiano, publicitário radicado em São Paulo. Sala de aula, o bar Jobi, point boêmio do Leblon, no Rio.

O pretexto foi a entrevista coletiva para lançar o Rio Summer, evento anunciado e reanunciado aos quatro ventos, para o período de 5 a 8 de novembro. Encantado com a própria idéia, Nizan me contou em uma mesinha, antes da chegada de mais gente – eu e esta mania de chegar cedo -, que vai ter uma passarela de jaboticabeiras no Forte de Copoacabana, que quer fazer um mix com o espírito do Rio, o DNA carioca. Porque o que sai daqui, influencia o Brasil. “Qualquer pesquisa de marketing revela isto, todo mundo sabe.” Sim, mas o cara vive em São Paulo, e a rivalidade entre as duas cidades é legendária e histórica. Nem é com ele, que diz que é baiano, não entende de moda, mas ouve há muito tempo os amigos perguntando por que não fazia um evento tipo lifestyle no Rio.



Robert falando (em inglês), Nizan e David Azulay, da Blue Man, ao lado

Como não entende de moda (sei, Nizan. Aquela camisa fora do cós da calca é puro charme, para quebrar a elegância do blazer e camisa Daslu), convocou o inglês Robert Forrest, que chegou atrasado porque estava flanando pela Dias Ferreira, almoçando no Celeiro, é mais carioca do que eu (que sou gaúcha). Chamou a mulher, Donata Meirelles, Lenny Niemeyer, o Carlos Pazzetto para cuidar das produções (foi quem pediu as jaboticabeiras), o Cacá de Souza, o cara mais bonito das semanas de moda de Paris, que trabalhou como diretor de comunicaçnao do Valentino. E um monte de gente que entende de moda, para agir no lado prático. Porque o conceito, deixa com ele.



Lenny Niemeyer e o diretor de projetos especiais do MAM-Rio, Heitor Reis. Em primeiro plano, Marcelo Borges. Para variar, escrevendo, à esquerda, eu

A Riomania do Nizan é tão marcante, que ele vai produzir uma corrida de um milhão de dólares no Autódromo de Jacarepaguá, no dia 31 de agosto, com patrocínio da Sky. “Esta é a praia do Brasil. O Rio é cidade de eventos, com estas coleções de novembro podemos ser realmente um player internacional na moda. “.Além das marcas famosas (algumas, nem tanto, mas já exportam muito, como a Trya), haverá espaço para os Rising Sun, isto é, os novos talentos, a pedido da Hildegarde Angel, que integrou o instituto Zuzu Angel na parada.

Quem vai desfilar nas duas salas de 300 e 400 lugares (mínimas, pelos padrões oficiais das semanas de moda): Lenny, Totem, Blue Man, Carlos Miele, Iódice, Trya, Jo de Mer, Salinas, Osklen, Raia de Goeye, Rosa Chá, Patricia Viera, Isabela Capeto, Daslu, Cia Maritima, Cris Barros e Adriana Degrea. Quem vai cantar em show na piscina do hotel Fasano: Caetano Veloso.
Quem vem: 100 compradores internacionais. Provavelmente, a Harrods e a Brown’s, de Londres, assíduos no Rio e amigos do Forrest. Gente de Miami e da Riviera italiana, para vitrines de abril e maio. “Isto de quem vem, é como no Carnaval: só se sabe na hora”, confessou Nizan. Lojistas nacionais serão convidados, mas não subsidiados. Isto é, sem passagem nem hotel. O foco é internacional. Sem mais justificativas.
Na platéia: só profissionais e formadores de opinião. “Nada de BBBs, é um evento sério. Os estilistas se matam fazendo maravilhas, e mostram para gente que não tem nada a ver.”. Para este público, haverá telas nos postos de salvamento. E resolvido, sem demagogias.

A esta altura, o Jobi era um tumulto de chopes esquentando nas mesas, bolinhos de bacalhau desaparecendo dos pratinhos, gente do lado de fora, pendurada na varanda. “Adoro este caos jobiano, a ordem no projeto da cidade. Este lugar já é um statement do Rio”. O Rio Summer começa com o patrocínio da Citroën, que tem fábrica no estado. O filme de apresentação começou com o governador Sergio Cabral dando apoio. Mas tudo começou de verdade com a euforia e a visão do Nizan Guanaes, o baiano libanês paulistano e parisiense que viu no Rio uma oportunidade de negócios globalizada.

Foi uma aula, de quem vislumbra perspectivas profissionais até num copinho de chope na madrugada de um bar. Bar este, que nem imaginávamos que fosse um statement, que tivesse um DNA e que justamente de um empolgado paulista vestido de Daslu fossemos ouvir a frase “o carnaval de São Paulo é local, o do Rio é internacional”.
Ui, dá até medo. Vai que todo mundo descobre a gente aqui?

fotos Ines Rozario