desfile de 1991 (Pinterest)

Mal soube da notícia da morte do Kenzo, corri para postar. Facebook, Instagram, Twitter. Pronto, os rápidos foram bem. Faltava o site e o blog, estes merecem fotos exclusivas. Horas de pesquisa, e nada no site. São tantas alterações a atualizações, que o trabalho desde os anos 1990 some. Antes que a ira deixe cega, lembro dos inúmeros CDs e DVDs com fotos da Maria Sprogis e da Ines, devidamente guardados e rotulados.

Um detalhe: atualmente, os smartphones servem para todo tipo de comunicação. Poucos ainda usam computadores e notebooks. iPads ficam para os joguinhos das crianças. Assim, a não ser que seu computador seja ainda a manivela, ele não tem…entrada para CD e DVD! Não é maravilhoso, o progresso? Antes que a raiva me impeça de sentir a falta do Kenzo, vou em frente e lamento sua partida, provocado por este vírus pandêmico.

O que me lembro do Kenzo Takada:

  • Foi o primeiro japonês a trabalhar em Paris. Abriu caminho para Comme des Garçons, Yohji Yamamoto, Issey Miyake e muitos outros talentosos asiáticos.
  • Era tão copiado (principalmente no Brasil) que não conviadava brasileiros, fazia microdesfiles sem anunciar o local, os seguranças da Place des Victoires tiravam o filme das câmeras (ainda eram com filme) de quem fotografava as vitrines da butique
  • Mas era maravilhoso, pelo mix de Japão e Paris, os quimonos estilizados com saias plissadas transpassadas (tínhamos que ter, na época, Christiane Fleury, Glorinha Kalil e eu éramos orgulhosas usuárias destas saias. A minha, perdi numa infiltração mega em casa, que acabou com metade do closet).
  • A butique era a Jungle Jap. Acreditam que um empresário carioca chegou a abrir uma igual, com o mesmo logotipo, em plena Barata Ribeiro? Durou pouco, claro, não era franquia de verdade.
  • Kenzo fazia moda masculina em linho, ternos e calças perfeitas, em cores que iam do branco ao preto, passando por tons de rosa e amarelo, lindos.
  • Dois grandes desfiles: um, em um chateaux que seria chamariz para um condomínio fora do centro de Paris. Tivemos que ir de trem suburbano, aventura. noturna. O outro, da despedida, de quando vendeu a marca para o grupo LVMH. Foi uma espécie de retrospectiva do trabalho. Ele apareceu e declarou que agora ia se dedicar às viagens.
    • Segundo sua asessora (caramba, esqueci o nome, era ótima), na manhã seguinte a este desfile, ele ligou desesperado, dizendo que tinha feito uma merda, que não sabia o que faria da vida sem a moda
    • Alguns anos depois, ainda ganhando bem graças aos perfumes, me convidou para ver sua nova marca, de moda praia e roupas leves. Tinha outro nome, acho que era Takada. Confesso que foi emocionante ser recebida naquele apartamento lindo, decorado com o  jeito dele, com tapetes de zebra, jarros orientais, flores e cores fortes. Demorou um pouco e lá veio ele, todo sorridente. Mostrou a coleção, era bonita, fresca, estampada com flores. Mas parece que vendeu pouco, ou houve problema de produção, só sei que nunca mais de ouviu falar.
    • Kenzo ainda circulou pelo mundo, veio à São Paulo Fashion Week, muito tímido, já um senhorzinho de paletó de tweed.
    • Uma pena, esta partida de uma pessoa tão especial, tão genial e criativa. Quem ainda tem peças dele, que guarde bem, longe de acidentes domésticos, cupins, traças e outros destruidores das fragilidades da moda.