Nada como trabalhar durante viagens de férias. Principalmente se a função envolve uma personalidade como Alber Elbaz, atual criador da grife Lanvin.

Ele foi entrevistado no Metropolitan Museum, em Nova York, pela colega jornalista Alina Cho, para uma plateia que pagou ingressos a partir de 40 dólares.

Alber Elbaz e Alina Cho, no dia da conversa no Metropolitan (foto Style.com)

A entrevista fez parte das performances e conversas inspiradas pelas coleções, exposições e galerias do Met. (ai, que invejinha).

No palco, só duas cadeiras simples, uma mesinha com flores vermelhas, um pedido do próprio Elbaz. Infelizmente, não permitiram fotos, uma pena.

_ Porque não fico bem, sentado, sem nada na minha frente… – brincou, aludindo ao corpo gordinho. Confessou que estava nervoso, o coração acelerado, e decidiu vestir um look mais colorido, em lugar do preto de sempre.

– Trabalho em estudios pequenos, cercado de espelhos, não gosto de me ver. Tenho que desaparecer, para valorizar a roupa. Não é bom ser muito visto, é ok que as pessoas sintam sua falta. Às vezes me acho um Hugh Hefner! – riu, lembrando do americano que se escondia do mundo.

América, América

Alber Elbaz nasceu no Marrocos. Chegou aos Estados Unidos com 100 dólares dados pela mãe. Levou três anos até conseguir uma entrevista com uma executiva da Gucci.

– Costumo dizer que viajo com duas malas, uma vai com meus pertences e a outra, com meus sonhos. O meu sonho, na época, era trabalhar com Geoffrey Beene. A entrevistadora viu meus croquis e disse que meu jeito era para…o Geoffrey Beene! Porque na Gucci tinham acabado de contratar o Tom Ford (que anos mais tarde me demitiu da Saint Laurent!). Para trabalhar na América é preciso ter talento, paixão e trabalhar duro.

Prévias detestáveis

– Todo designer detesta fazer prévias. É para testar a repercussão de uma coleção final, todo mundo dá palpite. Você faz longo, querem curto; faz liso, dizem que deve ser estampado. É como se uma mulher estivesse um pouco grávida. E a tal Cruise Collection? Não conheço ninguém que faça cruzeiro com estas roupas!

Mas a Alina Cho lembra que foi o próprio Alber quem começou a lançar estas tais pré-coleções, há 11 anos!

– Pois é, eu queria apresentar algo para editoras, clientes, gente antenada, sem ser em desfile. ..Aliás hoje em dia ninguém mais fala, todos estão postando, querem documentar o momento. A moda teria que ser feita para esta época, cores vibrantes, que saem bem nas mídias digitais.

Começo e depressão

Alber desenha desde os sete anos.

– Na escola, diariamente eu desenhava a minha professora e sua roupa, todos os dias!

Quando Pierre Bergé me chamou para criar Saint Laurent, em 1998, entrei em depressão um mês depois de ver os arquivos: não tinha nada a fazer, Yves Saint Laurent já tinha feito tudo! Minha analista me perguntou se eu era invejoso ou ciumento. “Como, respondi? Se tenho inveja é de quem come e não engorda! Depois entendi que eu tinha que pensar na mulher para quem ele criava, na vida dela, no que ela queria vestir. E não repetir o que ele havia feito. Foi uma época de sonho, quando saí de YSL, me senti uma viúva”

Mais uma confissão: é hipocondríaco!

_ Há poucas semanas assisti a uma palestra em Florença, de um cara que tinha inventado uma camisa que dava informações sobre batimentos cardíacos, pressão, sangue. Jamais usaria esta camisa, porque passaria metade da vida na emergências!

Nos tapetes vermelhos

Lanvin é uma das grifes favoritas das estrelas de Hollywood. Emma Stone, Natalie Portman, Mery Streep e Juliane Moore são algumas das clientes que já vestiram criações de Alber Elbaz. O que não significa que seja uma missão fácil.

– Elas dizem que não querem mostrar muito o corpo, mas pedem que faça um corselet. Ou escolhem algo com um decote. Ou só querem tons pastéis. É uma indecisão só, ninguém sabe o que elas vão usar, no final. Mas adoro Los Angeles, é uma cidade onde as pessoas te convidam para jantar em casa. Os pais são punks, tatuados, descabelados e os filhos adolescentes, todos arrumadinhos, de óculos, cabelo penteadinho.

Outra celebridade inevitável: Kim Kardashian.

– Tudo o que ela usa de Lanvin, vende! Uma vez encontrei a Kim em um lugar e não cumprimentei. “Você não me reconheceu?” perguntou ela. Respondi, sincero “Não, porque todo mundo na América está igual a você!”

Orientações

– Agora sei que é preciso entender a mulher como uma personalidade, não apenas uma beldade. A moda é dividir momentos de simplicidade e imperfeições. Quando está tudo maravilhoso, algo está errado.

– Minha mãe dizia para olhar sempre em cinco direções: para a frente, para evoluir; para trás, para não esquecer de onde você veio, para baixo, para não pisar em ninguém, para os lados, para ver as pessoas ao lado e para o alto, para ter proteção.

Sabe tudo, o Alber Elbaz! Foi uma conversa simples, autêntica e quase não se falou de moda.

Muito bom, ter assistido e sair depois andando umas 40 quadras ladeando o Central Park, em fim de tarde de sol.

Obrigada à Meryl Cates, do Communications Department do Museu,  que convidou para este encontro.