Primeiro dia: conceitual

Há esta eterna discussão na moda. Um evento tem que mostrar coleções comerciais, como faz Milão, ou deve incluir o lado conceitual, a roupa fantasiosa e artística, tipo Londres e Paris? Valem as duas coisas, porque o que ainda ninguém imagina que vai vestir vai dar idéias para o Futuro, são roupas de laboratório. Às vezes, são apenas looks, como acontece na Dior, onde John Galliano reinventa peças simples em jogos de misturas, maquilagens e ambientação performática. Quando se vê na vitrine, são quase básicos, de tão usáveis. E não é só porque acostumamos com a proposta.
O primeiro dia, aliás a primeira noite do Fashion Rio foi assim. Começou com as mulheres metálicas da Luana Jardim, mineira que recicla ferro gusa, pedras e até sobras de ouro e faz a Specular. Marca super-conceitual, cheia de saias-abajur, montadas em espiral, foscas ou polidas. Mas também de modelagem régia nos corpetes, com direito a bojos perfeitos. Muito bonito, desde o visual de estilo até o elenco, com homens de torso nú e saias de metal, e mulheres de todos os tipos. O que pode sair daí para nossos guarda-roupas? O corte das saias em espiral, os corpetes, desde que feitos em materiais mais amigáveis. Digo isto, porque fiquei imaginando como seria sentar com uma saia daquelas.

Depois foi a vez da Lilica Ripilica, que lança moda para as menininhas. Elas, que adoram remexer na penteadeira e no guarda-roupa das mães. Ok, ok, nem existem mais penteadeiras com espelhos triplos, e guarda-roupa virou closet. De qualquer jeito, sempre haverá uma garotinha cambaleando de salto alto e boca borrada de batom, e foi esta a partida para uma adorável coleção de vestidinhos soltos em estampas de flores meio borradinhas, como se fossem molhadas de perfume, ou com rosas, a essência mais presente nas fragrâncias femininas. As cores de blush e pó estão na cartela, principalmente nas sapatilhas com pedras na gáspea ou laços, como nas tampas dos perfumes. O jeans com lacinho preso de um lado e as iniciais LR em strass sugere que o monograma da Lilica em breve terá quase o poder do outro logo famoso, o LV, da Louis Vuitton. O cenário, da tal penteadeira, era todo branco, lembrava o último da Chanel, no Grand Palais, em março

Rita Wainer preferiu fazer uma performance só para a imprensa, que depois será vista pelos visitantes do Fashion Rio em vídeo no container que lhe coube. Seguinte: deusas gregas que comandam o destino dos mortais soltavam os fios da vida, com relógios amontoados de um lado. Em volta, passavam as mortais, as modelos com vestidos de volumes formados no exercício da moulage. Volumosos, drapeados, assimétricos, combinando estampas diferentes, em comprimentos curtos, não são exatamente feitos para qualquer uma e qualquer dia. Parecem bololôs de tecidos, com continhas douradas esparsas. E são bonitos, de ver, de olhar, de admirar um trabalho de estilo, que é arte.

O conceitual tem lugar certo nos grandes eventos. Obriga-nos a parar para pensar, a descobrir do que um criador é capaz, com alguns metros de tecido. Ele nem pensou em nós, que só queremos uma roupinha para ir a uma festa, para trabalhar, para a balada. Ele foi adiante.

Intervalo / foi uma noite linda, sem chuva nem vento. Ainda bem, senão era capaz das lindas saias da Luana enferrujarem / Eloysa Simão estava de casaco Coven e botas e legging Calvin Kein / Costanza Pascolato vestia casaco Miu-miu. “É velhinho!”, declarou. Fizemos a foto juntas, e ela acrescentou “são 400 anos de convivência!” / Giuliano Donini, líder do grupo Marisol, dono da Lilica, está em busca de marcas para alimentar seu grupo de moda / A Hak patrocina a Redley e a Cantão. A Têxtil Picasso, 14 marcas, entre Fashion Rio e SPFW.

Sabem a diferença entre patrocínio e apoio? Patrocínio entra com tecido e verba. Apoio, só com tecido, que pode chegar a 800 metros, depende do acordo feito com a marca.