Neste grande salão montado pela Expovest nesta semana, a Fenin Fashion São Paulo, a moda do verão 2016 revela a continuação do estilo BoHo, nova versão dos modismos espontâneos da década de 1970. Muito colete de crochê ou renda, usado com saias ou calças estampadas, camisetões e eventuais chapéus de abas largas, como na M. Nacional ou na Anany; o jeans cede lugar para tecidos mais leves e malhas.
O jeito BoHo do próximo verão, na coleção da M. Nacional, na Fenin Fashion São Paulo
Mas um dos destaques, como já aconteceu na edição de inverno da Fenin, em Bento Gonçalves é a Raffer. Este nome deve entrar para a lista das referências da moda brasileira, já que a marca, de quase 40 anos, baseada em Francisco Beltrão, no Paraná, dá um show de moda masculina. Por sorte, o proprietário e líder, Osmar Mazzotto, estava no espaço, para conversar. Mais do que sobre moda, foi uma conversa que reflete a realidade atual da indústria da moda brasileira.
Osmar Mazzotto, à frente do terno quadriculado, usado com gravata borboleta e camisa azul
A produção
Toda a linha básica é feita na China. Modelos que precisam de uma produção de 800 peças. Em Chao Chin, cidade do interior chinês onde fica a indústria de 110 mil funcionários que tem um dos braços ligado à vestuário (e outros para siderúrgica, gastronomia, etc). Na fábrica do Paraná, onde são produzidas as peças mais vanguarda, de produção menor, trabalham cerca de 300 funcionários. Fala o Osmar:
– Porque desde 2009 não conseguimos contratar os 600 funcionários que precisamos. Não encontramos quem queira trabalhar. Parece que viramos um país de preguiçosos.
O marketing
Muitas remessas dos belos ternos seguem para os figurinos de novelas como Babilônia e Verdades Secretas, da TV Globo. A Raffer trabalha com tamanhos até 86! E uma estratégia surpreende pela oportunidade:
– Estamos firmando um convênio com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Já neste ano, começando pelo Paraná, vamos selecionar lojas onde os profissionais terão desconto na compra de ternos. São cerca de 800 mil advogados no país.
Blazer azulão com avesso da lapela amarelo, calça super slim curta: para um verão colorido
Terno super slim cinza com brilho, de gola xale acetinada. Gravata de 05 cm de largura
O estilo
A Raffer traz o terno básico. Mas investe cada vez mais em novidades. Calças mais justas, modelagem que já passa do slim para o super slim, lapelas xale, inspíradas no smoking, ótimos blazers de algodão quadriculado (a cara do verão italiano. Ou do carioca, até para usar com bermudas), paletós com forro estampado, ou em jacquard preto e branco, bem Las Vegas. E as gravatas diminuem de 07 para 05 centímetros de largura, incluindo a volta do crochê, estilizado, mas com a referência nos anos 1980.
Quer dizer: há moda masculina inovadora para atender aos homens que querem se vestir de forma moderna. E para os bravos advogados e juristas do Paraná, que já poderão se vestir com legítima moda nacional de bom gosto.
E mais: estão estranhando que chame de moda nacional a que vem confeccionada na China? Só que não foi a primeira vez que ouvi que não se encontram funcionários para as indústrias daqui. Então, o jeito é apelar para países que produzem e entregam as peças com qualidade. O primeiro modelo é criado por aqui, e enviado como protótipo para o Oriente (seja China, Índia, Paquistão, etc) / preocupa pensar no futuro do emprego no Brasil, já que ninguém quer aprender as técnicas e botar a mão na massa com carteira assinada. A moda já foi o segundo maior empregador do país, só perdia para a construção civil.
Fotos Iesa Rodrigues