Um domingo de estilos muito parecidos. A esta altura, o quebra-cabecas das tendências vai se encaixando, e hoje muitas peças foram fundamentais para antecipar o que realmente será usado no fim do ano na Europa, e principalmente em Paris. Sim, porque cada cidade tem um estilo, isto é cada vez mais evidente. Ainda que se diga que a moda é global – basta reparar na maneira de vestir das paulistanas e das cariocas, completamente diferentes.
Issey Miyake apresentou uma bela coleção. Simples, nos seus bons materiais sedosos de sempre, desde vestidos bons de botar nas malas das viajantes até blusões acolchoados (doudounes) em combinações de azuis com castanhos ou em branco e bege-claro. Esta gola grandona, aconchegante, foi um dos pontos altos do desfile no Grand Palais.
John Galliano, o próprio, circulava pelo Marais, o bairro onde arranjou aquela confusão que acabou com sua carreira de diretor de criação da Dior e da sua própria marca. Mas Bill Gaytens, seu antigo braço direito no ateliê Dior, se encarregou das duas marcas. Sem carisma, sem alarde, ele está conseguindo pelo menos manter tudo nos lugares. A coleção Galliano foi uma das melhores, mais interessantes e variadas da semana. Um jeito ingles, de dandy e pirata, lembrando os néo-românticos dos anos 1980, muito fantasia e provável de inspirar muita moda em dois anos. Sim, este é o prazo para uma coleção de vanguarda “pegar”. A cartela de amarelos-queimados, os tons certos de vermelho são referências para estes anos.
Givenchy by Riccardo Tisci, um favorito das musas pop, como Madonna, podia ter feito melhor. Também seguiu o tema hípico, com botas de cano longo, muito couro em casacos e um final de influência lingerie com bordados em preto sobre seda lilás, laranjas e corais. Sempre com as botas de corte reto. Houve quem visse um encanto vampiresco, houve quem detestasse o desfile. Bem, foi um tanto repetitivo. Talvez pelo horario tardio, pela chuvinha gelada, as opiniões fossem tão diferentes. Talvez quem estivesse nos banquinhos da primeira fila tenham conseguido distinguir melhor os detalhes e achado mais graça. Mas e o Gaultier, que foi lindo, no mesmo horário, em lugar mais longe ainda? Misteeeerios da mooooda.
Intervalo / E amanhã, que tem nosso Pedro Lourenço? Confesso que fico até nervosa. Torço por ele – é uma prova de esforço desfilar fora de seu país, principalmente aqui em Paris / falando em nervosismo, acho graca em uma mania pessoal: tensão em filas. Pode ser de banco, de cinema, de entrar em desfile. Quando tem senha então, dá vontade de sair correndo quando vai chegando o meu número. Deve ser trauma de um lance chamado prova oral, que tinha no meu tempo de ginásio – que agora é oitava e nona séries. No fim do ano, as turmas se preparavam para estas provas orais, que consistiam em ser sabatinada por uma banca de professores. Trauma! / a temperatura de hoje rondou os 12, mas um vento frio e a chuvinha congelavam / depois do triunfo do Oscar, o Jean Dujardin estrela Les Infideles, (os infiéis), vou ver quando acabar a semana de moda