fotos Marina Sprogis
Os tempos não estão para muita originalidade e conceitos só para passarela. Até na alta-costura nota-se uma abordagem da moda mais realista. Nem Gaultier, que nos acostumou a apreciar longos fantasiosos, com torre Eiffel bordada, saiu do sério nesta semana. Ele tratou de dar a versão Couture aos seus estilos mais emblemáticos – trench coat, smokings, espartilhos, jardineiras e os ternos andróginos -, e adaptou tudo em uma homenagem ao cinema. Uma questão de styling, dentro da identidade do criador.
A música de abertura dos filmes da MGM, quando o leão aparece rugindo na tela, deu a partida, segundo Marina Sprogis, que estava fotografando. A modelo de trench preto, cabelos desfiados e altos, era a própria Brigitte Bardot. A de franjinha nos cabelos escuros, era uma Louise Brooks. De macaquinho acolchoado, Barbarella; a loura, uma Marilyn Monroe. Uma mistura de personagens e atrizes, ricamente vestidas, mas com roupas de visual quase básico, não fossem os suntuosos casacos de pele e os eventuais paetês dourados. Há também referências a filmes como Querelle – na camiseta de marinheira bordada com pantalona – ou Nasce uma estrela, – com o smoking bordado sobre pernas de fora, como usou Judy Garland no filme.
No colorido, Gaultier manteve a fidelidade ao seu currículo: marrom, cáqui, preto dão bases para pratas e dourados.
De enfant-terrible, famoso por temas favoritos (trench, ternos, androginia, marinheiros, espartilhos) nos anos 1980, Jean-Paul Gaultier incrementou seu estilo em 30 anos de trabalho. Primeiro, ganhou em técnicas de costura, depois de aceito como criador de alta costura pela Câmara Sindical parisiense. Depois, aprimorou o instinto comercial, assinando as requintadas coleções Hermès. Atualmente, JPG domina como poucos o design em couros de todos os tipos e quebra a seriedade das peles e bordados com um toque bem-humorado e o senso de espetáculo na passarela.