Começa agora uma série de textos que originalmente são publicados no Facebook às segundas-feiras. Em algumas décadas de trabalho, claro que acumulam-se casos de trapalhadas, maluquices e momentos divertidos, que têm agradado aos amigos e seguidores do Face. Como nem todo mundo curte as redes sociais, talvez aqui alcance mais gente que queira saber como é o dia a dia de uma repórter/ilustradora/editora em redações de jornal, revistas e coberturas de eventos. Pode ser que o jornalismo impresso seja substituído pelo online (como está o Jornal do Brasil atualmente) mas a comunicação e a notícia são necessidades que não acabam

Começando por casos com fotógrafos:.

Amigo companheiro das primeiras produções: Evandro Teixeira! Saiamos da av. Brasil às 13h, modelo, roupas, cabeleireiro, na sacolejante Rural Willys da redação. Rumo Barra da Tijuca, no tempo em havia dunas na praia. Só que a rota sempre  incluía uma passadinha pelas bandas de Olaria. Porque lá o Van Van encomendava as comidinhas dos passarinhos amados dele. O resto do grupo nem reclamava do desvio e ia se divertindo. Chegamos na Barra com a luz perfeita, seis roupas (não se dizia look ainda) fotografadas em preto e branco em menos de uma hora. Foto cor no fim do dia é mole, mas preto e branco tem que ser o mestre passarinheiro.

Fotógrafo recém chegado, já com nome na praça. Escalado para a moda logo depois do almoço, me olhou do alto do seu 1,90, virou para a janela e abriu os braços, afirmando:”não dá para fazer. Tem uma capa de nuvens”. Olhei em volta, vi outros colegas concordando. Com tudo pronto, modelo, cabeleireiro, roupas, acessórios, Rita Moreno a postos. Tive que dar o toque pro moço: “você está em um jornal diário. Hoje é sexta-feira, a página deve sair amanhã. Com capa ou sem capa, vamos fotografar”. O cara saiu com um bico enorme. Nem lembro onde era a locação, tanto podia ser no próprio estacionamento do jornal, como no quadrado da Urca. Só sei que ficou tudo lindo. Viramos amigos, que saíam para trabalhar abaixo de chuva, sem capa (rsrsrs)  se fosse preciso

Uma internacional, que assisti, na hora, sem entender nada: em um desfile do Claude Montana, um dos mais disputados nos anos 1980. Quem não tinha convite, era um tal de entrar por baixo das tendas montadas no buraco da obra do Forum des Halles. Os convites eram poucos, o desfile, maravilhoso. Estava tão lotado que nem consegui chegar ao meu lugar, fiquei em pé perto da saída, ao lado dos fotógrafos. Com o habitual atraso, começou uma agitação ao meu lado. Os agressivos seguranças, exclusivos do Montana, pegaram um cara miudinho, asiático e jogaram para fora da tenda, com câmera e tudo. Naquele tempo, a cópia era frequente, e muita gente contratava fotógrafos para entregar as imagens da coleção. Pois o pobre do coreano (aos poucos, fui sabendo dos detalhes) teve o equipamento quebrado na queda. Imediatamente, todos os companheiros, do mundo inteiro, depositaram as câmeras no chão, em sinal de protesto. Um deles, uma espécie de líder, avisou: “Montana, sua coleção não será publicada em lugar nenhum. Ninguém fará fotos”. E não saiu nada, em lugar nenhum. Ainda não existia smartphone, nem redes sociais. Quem viu, viu e não esquece dos ombros largos, os casacos perfeitos, as cores militares. Acho que foi o começo do fim da grife – nunca desprezem o poder dos fotógrafos.

A última, nacional: o JB não tinha especialistas na área das fotografia. Quem estivesse disponível e fosse o da vez, saía para a notícia. Alguns eram preferidos para algumas tarefas, como o esporte. E nunca tinham oportunidade de fazer moda. Ficavam de olho comprido, mas raramente eram designados, porque às vezes demorávamos na produção, desfalcando a equipe para assuntos mais urgentes (eterno preconceito com o lifestyle). Só que eu queria uma pauta com movimento, as roupas eram fluidas, rodadas. Locação, a calçada em frente à Academia Brasileira de Letras, sem sol à tarde, com ventos favoráveis. Desta vez, escolhi quem nos acompanharia: um fotógrafo de futebol! Com sua lente gigante, saberia sacar os movimentos exatos da modelo, e faria tudo rápido, sem gastar um filme por roupa. Graaaande Ari Gomes, mestre no Maracanã, autor de um dos nossos editoriais mais bonitos!.