Entradas e saídas

Nem sempre adianta ter um convite ou um crachá poderoso para entrar em um evento. Um dress code errado, uma estratégia de penetra e fica-se do lado de fora. Só que não, hahaha: imagina se um correspondente de guerra fica longe dos tiroteios? A mesma coisa (quase) nesta batalha da moda. Alguns exemplos:

17 horas, eu na redação na Av. Brasil, convoco o Evandro Teixeira para ir ao desfile do Clodovil, em São Paulo. Rápido, com a mesma roupa do dia inteiro (devia ser jeans e blazer), rumamos para o Santos Dumont e lá nos fomos para Congonhas. E se ainda me lembro, para a Av. Brasil paulistana, onde ficava o ateliê do Clodovil Hernandez, um mestre que admirava muito. Chego na porta do varandão do ateliê, já lotado das louras cobertas de ouro. Clodovil vem lá do fundo, de mão na cintura. “O que você está fazendo aqui?”, perguntou. A esta altura, Evandro já tinha entrado e se localizado para fotografar. Respondi “vim do Rio para ver tua coleção”. “Mas eu não te convidei”, o outro retrucou. E eu (a esta altura, as louras paulistanas já nos olhavam, quase indignadas com aquela penetra de jeans): “eu vim do Rio, cheguei agora do aeroporto e vou ver teu desfile”. Como não tinha jeito, Clodovil virou as costas e arrematou “faça como quiser. Não tenho lugar para você”. 

Ué, quem precisava de lugar? Fiquei em pé mesmo, e assisti a um desfile maravilhoso, com tailleurs em tons pastéis contornados por vieses pretos. Seis meses depois vi este estilo na passarela da Chanel. DEPOIS! Clodovil era tímido. Tempos depois, nos encontramos na São Paulo Fashion Week. Ele estava apavorado, pediu para ficar de mãos dadas comigo.

Em Paris, a coisa mais comum é ser barrada. Porque a sala está cheia. porque o nome não está no iPad apesar de haver um convite nominal na mão, porque, porque, bem, não faltam porquês. Parisienses adoram seus pequenos poderes.

Estou eu com meus querido jeans, suéter e casaco de couro used. Parto para o desfile do Jean-Louis Scherrer (anos 80, ainda vivo) na Avenue Montaigne. Multidão subindo as escadas, eu com convite na mão, sem ter almoçado, anoitecendo. Foram me deixando para trás, imprensa tinha que esperar. Espera, espera, depois de uma escadaria, em pé, aguardando a autorização das mulheres de saia preta e blusa branca, iguais às vendedoras da Sloper, rede de lojas tradicionais do Brasil. Pois não é que entrou todo mundo, e eu fiquei na porta? Sabem por que? Porque estava de jeans! Foi o que concluí, pelo olhar de cima a baixo das mulheres Sloper. “Ok, as uvas estão verdes,nem curto muito o Scherrer”, pensei. Não sei como, Marina Sprogis largou seu lugar de fotógrafa,  saiu da sala, me viu no pátio interno do prédio, indo embora, provavelmente meio verde de fome e danada da vida. “Que cara é esta?” perguntou, mas sacou logo que era falta de almoço, café, qualquer coisa animadora. Fomos para um bistrô, nos acabamos de comer um filé e uma mousse, felizes da vida.

Atualmente, olho para as plateias e vejo aquele monte de jeans e tênis. E eu, de preto e bege, preto e cinza, mocassim. Dress code é um mistério, hehehe 

E uma saída. O último desfile costuma atrasar, em São Paulo. No caso, era importante (pelo menos para mim), era o da Fórum, ainda no tempo do Tufi Duek. Demora, demora, demora. Já existia celular, e a editora do Jornal começou a ligar, pedindo a matéria. Eu, na primeira fila, a luz ainda acesa. Telefone sem parar, dooutro lado, gritaria avisando que a edição só esperava a matéria do dia. Não adiantava dizer que era Forum, que era importante. Tanto insistiu e tanto atrasou, que tive que levantar da cadeira, todo mundo olhando, e saí da sala, correndo de taxi para o hotel, atendendo ao telefone. E atendendo continuei, até conseguir escrever o relatório do dia, à meia-noite. Desde esse dia, quando posso, sento na primeira cadeira, perto da saída, para não dar vexame se tiver que sair correndo.