Assistir à Marcia Ganem virou um privilégio. Incrível acompanhar a evolução desta baiana descoberta por Eloysa Simão em um ateliê de sobrado em Salvador: no começo, as roupas eram aplaudidas pelo aspecto conceitual, apesar de um tanto exóticas demais para serem vestidas. Ao longo dos Fashions Rios, Márcia foi colhendo aplausos, patenteou em 1998 a fibra de poliamidas, foi chamada para apresentações na Europa. E agora mostrou uma coleção digna de qualquer passarela.
Para o inverno 2007, Márcia supera o lado exótico, sem deixar de ser conceitual, porque cada modelo tem uma história. Começa pela inspiração nas redes de pesca, a trama filé, que é retrabalhada com pedras e cristais, sem parecer um falso luxo. Depois, evolui para os bilros, a renascença, os trabalhos de nozinhos e nhanduti (crochê paraguaio). Ok, aí está o artesanato, o folclore de sempre. Só que veio a surpresa de ver estes fios formando minissaias franjadas, vestidos bordados sobre segundas-peles, miniboleros, blusas com basques emaranhadas em tom mel, calças de alfaiataria com corpetes de mangas quadradas, em tramas desfiadas.
Foi uma versão futurista e contemporânea das técnicas seculares do nordeste. Uma apresentação moderna, com as meninas de cabelos longos e lisos, puxados para trás, dentro dos padrões atuais da moda. A cartela, dentro das restrições também impostas pelas tendências – preto, branco, cinza e mel. Enfim, um look de moda, com a originalidade de Márcia Ganem, ao som irresistível de zabumba, triângulo e sanfona.
A estilista que há pouco tempo só era entendida pelos estrangeiros, está se integrando nos padrões de moda, que pode ser entendida e vestida pelas brasileiras.
É o ícone do evento, um resumo da mistura de design, artesanato e tecnologia.
Iesa Rodrigues