Maria Bonita, na chuva

Um trabalho respeitável, assinado no programa pela primeira vez pela equipe liderada por Danielle Jensen; feras de criatividade como Cristiana Pessanha, Mareu Nitschke, Andrea Santos, Luiza Bonadiman e Aryzalva Praça. Na passarela de água, as beldades desfilaram quase irreconhecíveis, com cabelos enrolados em touca e óculos escuros, mais um gloss nas bochechas, fingindo rosto molhado, efeito do trabalho de maquilagem de Celso Kamura. Tudo foi coerente, com referência em uma estação de chuvas, como as capas, os tecidos com aspecto molhado, as cores neutras. Alexandre Aquino, sócio da marca, comentou que antes de pesquisar as coleções, é feita uma consulta ao Climatempo, para saber as previsões da estação. “Atualmente, parece que no Brasil só existe a estação com chuva e a outra, com mais chuva. As chuvaradas estão anunciadas para o próximo verão, a partir de outubro”, antecipou Alexandre. Além dos aguaceiros, a Maria Bonita resulta do eterno tema geral da diretora de criação, Danielle Jensen, que sempre recorre ao grafismo do concretismo, o lado urbano, mais a linha de alfaiataria, típica da Maria Bonita (ou a Bonitona, como é conhecida), une-se à mistura de materiais tecnológico com o bordado à mão. Vestidos inteiros em algodão ganham cobertura de paetês azuis.
As roupas continuam ousadas, têm aberturas laterais desnudantes nos paletós, grandes bolsos que se penbduram nas laterais das calças e costas à mostra. Há maiôs-ternos, surpreendentes, capas com avesso em paetês verdes, boleros-mochilas, calças de malha em alfaiataria, de bainha inglesa e vestidos em cores fortes, formas gráficas irregulares. Por cor forte, na Maria Bonita, entenda-se a gama sutil do azul-bic, combinada com vinho e amarelo, ou preto e branco.
Em vermelho, há o maiô com panejamentos nas costas. Repito, é uma coleção de roupa avançada, para gente que sabe usar moda diferente do genérico. Só que está cada vez mais próxima dos guarda-roupas de gen te que gostaria apenas de um estilo sofisticado, com algum conceito, sem deixar de embelezar o look. Porque o grande problema da roupa conceitual é o fato de em geral tirar da usuária qualquer possibilidade de se sentir bonita.

Rodapé / uma notícia triste: faleceu a mãe de Paulo Borges, diretor da São Paulo Fashion Week / na platéia, há quem faça o sinal da cruz, antes de o desfile começar / a água da passarela da Maria Bonita será aproveitada para regar o jardim da Bienal. Beleza, esta onda de preservação e reciclagem. Mas aqueles banquinhos de cartolina estão um tanto reciclados demais. Dá até insegurança sentar, porque parecem bambos. Ou a platéia engordou? / Mara MacDowell veio prestigiar a Maria Bonita. Mara deu um sumiço depois do Fashion Rio, foi para um spa em Itapema, para se renovar. Antes, já havia perdido nove quilos, e está feliz, de jeans skinny / segundo descoberta do Bruno Astuto, a dupla da Raia de Goeye diz que saiu bem do evento. Paula Raia e Fernanda de Goeye cancelaram a apresentação na semana paulistana, farão desfile paralelo em alguma super-mansão, como sempre. Segundo Bruno, ao telefone, elas reforçaram que saíram bem, porque “os advogados resolveram tudo” / por incrível que pareça, até agora, segundo dia de SPFW, a Maria Bonita foi a marca que apresentou propostas realistas para o verão. Nos outros desfiles, fica a impressão que falta alguma coisa. Digamos, algo para vestir da cintura para baixo. Os microvestidos são inviáveis, no século 21.

foto Ines Rozario