Mais uma temporada de desfiles começa pelas tendas de Nova York, e Carlos Miele voltou ao Bryan Park para mostrar a nova coleção de inverno. Cada vez que leio os comentários sobre suas apresentações, juro a mim mesma que na próxima temporada vou para Nova York, em vez de Paris, só para ver de perto o que o Miele faz.
Quando desfilava por aqui pelo Brasil, sempre foi um momento especial, performático, porque o cara tímido, que começou a aparecer no Rio através da M. Officer e de uma campanha no cinema (já inovava), apresentada no hotel Intercontinental. Depois, foi a etapa da semana de moda de São Paulo. Lembro das sereias, com modelos sentadas na passarela (ainda se usava passarela alta naquela época), com rabo de peixe. Do Naná, percussionista que veio de Los Angeles para um desfile em que as modelos vinham sentadas em carrinhos de mão cheios de terra. Do modelo com pernas de prótese, devido a uma queda de asa delta, que subia em uma escada, vestido de roupa de amianto, e era cercado por fogo. Da modelo índia em coleção primorosa – a primeira do estilo que até hoje é marca registrada do Miele -, com a estréia da Lycra com couro, dos recortes rendados a laser e da parceria com a Coopa Roca, que forneceu os fuxicos.
Para o inverno 2010/11, a coleção desfilada na segunda-feira ao som de remix de Jorge Ben Jor traz novamente os fuxicos de retalhos e sobras de tecidos, o Bio-denim, material biodegradável feito também com sobras de jeans, amaciado com manteiga de cupuaçu, da Amazônia. Agora, depois de firmar o nome como criador de roupa de festa, ele começa a mostrar as linhas de jeans, mais casuais. É uma estratégia planejada, há pelo menos cinco anos ele declarava isto em entrevistam que se quisesse se impor internacionalmente, teria que começar pela alta-costura, a roupa de festa.
Interessante é que as críticas da imprensa européia e americana falam que são roupas feitas para as curvas das brasileiras. Talvez sejam inspiradas nas nossas curvas – mas são feitas para as mulheres das grandes cidades do mundo.