Paris abre a semana de moda com cores claras e artes de costura

Iesa Rodrigues
Fotos Silvia de Souza

O primeiro dia, um belo domingo de sol em Paris, antecipou os estilos do verão 2008 com transparências, cores manchadas e uma forte lembrança dos anos 70. Ainda, anos 70? Sim, e muito bem reeditados, graças ao trabalho de Christophe Descarnin, atual estilista da marca Pierre Balmain, considerada uma das marcas mais parisienses.
Quanto às transparências, elas não significam passarelas cheias de modelos com seios à mostra. Os tecidos finos e delicados são trabalhados em camadas, que escondem o corpo, mas dão movimento à figura. As rendas e tules recobrem tecidos em cores claras, ou em tons de pele, sempre com algum brilho embutido. Aliás, a primeira impressão é de madrepérola nas coleções: estes tecidos, mais o brilho fosco dos prateados, as tramas com fios metalizados, os tons indefinidos, há um toque perolado geral.


Lie Sang Bong
O coreano Lie Sang Bong pensou nos Novos Românticos, lembrou das formas da Bauhaus e trabalhou com cores primárias. Há também uma espécie de néo-futurismo em tecidos metalizados, capazes de armarem mangas e darem volumes nas golas. O trench-coat continua inspirando, nestes novos tecidos. Para dar uma referência, fotografei as esferas feitas com círculos da organza, na passarela, vejam acima. E lembro dos linhos da Braspérola nos anos 90, maravilhosamente metalizados ou perolados. Lie trabalhou vestidos inteiros com rodelas de organza queimadas nas bordas, verdadeiras obras de arte. A base dos modelos é a regata-vestido, uma simplicidade perfeita como suporte para os tais círculos de cores misturadas.
As estampas digitais da também coreana DTP Link cobrem superfícies com brilho, mas trazem desenhos tradicionais do Oriente, como as cerejeiras floridas. Sandálias de saltos recuados prata e tiras elásticas e toucas de plástico preto, imitando cabelos curtinhos de melindrosas completam a coleção.


Balmain
Não gosto de coletes, franjas e tie dye. Mas no terceiro look assinado por Christophe Descarnin na passarela montada no hotel Westin, estava convencida que tudo era lindo. Calças justas nas coxas, abrindo em sino na barra, com babado enviesado; túnicas com fios prata sobre o fundo estampado em tie-dye e traços tipo cashmere; longos tomara-que-caia e coletinhos franjados e com aplicações em prata tinham tudo a ver com a memória do Flower Power. Mas ora, que moderno, este Christophe! Isabelli Fontana usou o longo com saia em barras; Raquel Zimmermann, um microvestido com estampa de penas e decote bordado. Um destaque, a calça que misturou o estilo jodhpur (montaria) com bolsos cargo e a estampa…carne-seca! Estilizada, claro, mas muito parecida com a autêntica, dos anos 70.
Cabelos soltos, naturais. Das 16 modelos, 12 eram louras. Sandálias com várias tiras tacheadas, subindo até o tornozelo.


La Tulle
Gosto de ver alguns desfiles meio fora do mainstream, quase alternativos. Dali saem muitas idéias que viram tendências, apesar de às vezes a produção ser hesitante. A coleção da Sung Kyong Cho veio como uma aula de ballet, para honrar o convite que mostrava uma bailarina clássica, em preto e branco. Nesta combinação é a estampa de flores a traço, o vestido bicolor de mangas 3/4 bufantes. As saias de bainha arredondada tem cristais no forro, entalhes de renda enfeitam o casaquinho em estampa de rosas inglesas e um simples vestido camisola, com barra de renda preta, junto com o modelo preto, todo franzido, sobre forro cor de pele são opções para bons guarda-roupas de verão.
Ao vivo, o elenco de garotas aparentemente iniciantes hesitava na marcação. Quando vistas nas fotos, se transformam em figuras tipo la Goulue, personagem dos quadros de Toulouse-Lautrec, com cabelos volumosos e desfiados, rostos brancos e cílios com rímel também branco. Simplesmente bonitas.

No fim do dia, as transparências se consagraram nas vitrines do colecionador Didier Ludot, especialista em roupas de alta-costura e dos primórdios do prêt-à-porter. Entre preciosidades assinadas Paco Rabanne, Balenciaga e Courrèges, figuravam vestidos femininos em tule de algodão sobre paetês, longos em point d’esprit, com recorte em devorê nas costas. Para os senhores adeptos da moda, um macacão para coquetel (SIC), em margaridas de organza branca ou a camisa de popeline branca, com a cueca-boxer também branca, acima do cós da bermuda com cristais bordados nas pernas. Estes novos jogos de transparências sem preconceitos de feminino-masculino são criações de Alexis Mabille, que depois de estudos de moda trabalhou com Ungaro, Nina Ricci e desenhou jóias para a coleção masculina Dior.


Intervalo / saindo da exposição de vitrines do Didier Ludot, no jardim do Palais Royal, adorei a bolsa a tiracolo do Marc Jacobs, poucos metros adiante. Ao lado da novidade, a referência: uma bolsa antiga da Panam! /
Nesta semana inaugura a imensa loja do Roberto Cavalli na esquina da Cambon com rue Saint Honoré. Para variar, Kate Moss está na foto da fachada / a mania parisiense (isto é, dos turistas em Paris) é alugar bicicletas prateadas para circular pela cidade. Duas horas por 7 euros. Convém ter cartão do seguro-saúde, por via das dúvidas, em caso de tombos / Juarez Machado, nosso desenhista residente em Paris, abriu galeria própria no nobre endereço ao lado do hotel Westin, na rue de Castiglione / Sung Kyong Cho, estilista da La Tulle, criou um prato, o L’Amo

ur par La Tulle, executado pelo chef Patrick Juhel, do Le First, o restaurante-boudoir que fica na rue de Rivoli, 234. Moda e cozinha, agora juntas / uma referência na temporada: Oskar Schlemmer, figurinista