Ocimar Versolato sempre foi um dos meus entrevistados favoritos. Tinha tiradas surpreendentes, “quem começou a fazer vestidos com tecidos de terno? Eu!” . Ou então, “estes tons de cinza e violeta, quem começou a usar? Eu!” . E mais: “os recortes e assimetrias? Eu!”

Eu ficava meio chocada, ria e dizia, meio maternal, “caramba, não fala assim, parece pretensão!”, o melhor é que era tudo verdade! Antes da belga Anne Demeulmester lançar a risca-de-giz em vestidos longos, o Ocimar já havia desfilado uma coleção quase inteira em Paris. Sim, ele nunca fez por menos, começou direto em Paris, na agenda da Chambre Syndicale.

Era um enfant terrible à sua maneira. Além de autodetectar o pioneirismo nos detalhes citados acima, começou produzindo pequenos desfiles, que logo viraram uma invasão de editoras e repórteres que reconheciam um talento novo. Os anos 1990 estavam carentes de moda inovadora e ao mesmo tempo usável. Das pequenas salas, partiu para o palco de um cinema. Mas em outra temporada despertou a ira principalmente dos fotógrafos, que tinham que cumprir a agenda da semana de desfiles quando inventou de mostrar a coleção no foyer da Opera de Paris, na Bastilha. O atraso de mais de uma hora deixou em desespero os profissionais que em seguida deveriam correr para um desfile de uma francesa cult, Martine Sitbon.

Mas nada abalava Ocimar Versolato, que continuou inventando e criando vestidos feitos de pompons de tecidos fino, abrindo caminho para um lado artesanal original, sem os brilhos e excessos da Alta Costura. Na próxima temporada a entrevista foi no ateliê novo, na Place Vendôme, endereço do hotel Ritz, dos grandes joalheiros e do estudio de Frédéric Chopin, uma beleza de andar térreo, com pátio grande o suficiente para servir de palco para um belo desfile. Lá, se instalou nosso Ocimar, um espanto não só pelo local de super prestígio, como pelo fato de, em uma década em que nenhuma grife mantinha ateliê com costureiras próprias, em uma sala nos fundos havia pelo menos meia dúzia de costureiras e modelistas.

A crise mundial ameaçava a moda. As brasileiras continuavam a frequentar o elegante endereço, os desfiles, fora da agenda oficial, atrasavam horas, à espera das clientes. “Espero o tempo que for necessário por elas”, respondeu ele, mesmo sabendo que havia um ônibus esperando pelas jornalistas para levar ao primeiro desfile da Diesel em Paris. Claro que perdemos o desfile, chegamos de ônibus quando a plateia se retirava do estádio (se não me engano era Bercy).

Na próxima fase, foi convidado para criar as coleções da Lanvin, marca francesa famosa pelo tom de azul, que tentava se recuperar. Vi pelo menos duas lindas colecões, mas o contrato acabou. O substituto foi outra estrela, o francês Claude Montana, que também durou pouco. O comentário geral era de que a Lanvin era um tanto caveira de burro, derrubava seus criadores. Até a era de Alber Elbaz, que deu certo até também ser dispensado há dois anos.

Demorou, mas a crise chegou lá. Ocimar voltou ao Brasil, deixando para trás dívidas com fornecedores de tecidos _ situação que afetou muitos criadores na época. Aqui conseguiu um patrocínio que abriu lojas em pontos estratégicos, como a Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema – um prédio inteiro, onde atualmente funciona parte da TV Record. O nome e as iniciais OV ainda assinaram perfumes e camisetas, por alguns meses.

Nunca vi Ocimar triste, de mau humor ou deprimido, mesmo nas entrevistas durante fases difíceis. Era divertido, pretensioso (com razão) e criativo. Um dos grandes nomes da moda brasileira que vi atrair toda _ eu digo TODA _ a imprensa internacional às suas apresentações.