A Paradise, marca do Thomaz Azulay e do Patrick Doering é pequena, mas merece destaque pelo trabalho. O desfile no Hotel Fairmont comprovou o acerto do estilo. São peças quase básicas, em estampas digitais de vários temas. Neste caso, a referência na Yes, Brazil, trouxe folhagens tropicais, araras, animal print misturado, abstrações rebordadas, marmorizados coloridos, elementos barrocos e florais em fundo escuro. Saias com panejamentos, calças masculinas de cintura bem baixa, jaquetas impecáveis. O vermelho faz um longo perfeito. Um pouco de tudo, desde o microvestido da Xuxa (“com apenas quatro centímetros abaixo da pepeca”, comentou a loura) até o tailleur barroco ou o longo vermelho, peças que vestirão todos os tipos de mulheres e homens. Sempre com a irreverência e criatividade do DNA Yes Brazil, atualizado pela The Paradise

 

O show

Como foi possível lembrar dos sucessos do Canecão, da música dos anos 1980, sem um ar nostálgico e rançoso? Pelo contrário, tudo foi festa, desde Evandro Mesquita levando a Blitz em hits como Você não soube me amar, até Gilberto Gil e os filhos cantando Realce e o Rio de Janeiro continua lindo, passando pelo Pepeu Gomes e o Jonathan Azevedo lembrando Cazuza. Todos ali, ao vivo! Poucas vezes ouvi uma trilha tão incrível. Lembro do primeiro desfile do Alexandre Herchcovitch como designer da Cori na sala São Paulo, ao som de Villa Lobos, de um da Second Floor dirigido pelo Gerald Thomas onde só se ouvia “you can talk to me”, trecho de uma música dos Beatles. E um Valentino, ainda no tempo do próprio, com uma trilha anos 1980 distribuída para os convidados em fita cassete.

Os famosos

Para completar as referências Thomaz e Patrick convidaram modelos que desfilavam para a Yes, nos primórdios. Xuxa estrelou, com dois looks. E mais as maravilhas atuações de Veluma (mesmo rosto, mesmo jeito e cabelos brancos. Linda), Carla Barros (classe!), Monique Evans (com a namorada Cacá Werneck, com direito a beijo na passarela), Pedro Aguinaga (eleito o Homem mais bonito do Brasil nos anos 1980), Walter Rosa (outro dos mais bonitos da moda brasileira). A maquiagem com batons rosados ou violetas ficou por conta do Vini Kilesse, os cabelos, alguns com faixas de papel filme, pelo Rosman Braz. A Sephora era um dos patrocinadores, talvez tenha fornecido produtos

 

Xuxa, um caso à parte

O segundo look, calça e jaqueta jeans sobre a pele. Xuxa queria vestir todos os looks da coleção!

Muita gente gravou, já postou, botou no ar. A coletiva da Xuxa mereceu esta divulgação. Mesmo que no princípio ela tenha trocado os nomes, falando Thomaz em lugar de Simon. Fora isto, respondeu a perguntas até em castelhano, se jogou no chão para as fotos terem o fundo do backdrop com o logo da Yes. Foi inteligente, engraçada e profissional. 

 

 

 

 

Destaco duas respostas:

Se sou modelo ainda? Sei lá, nunca fui atriz e fiz um monte de filmes. Nunca fui cantora e vendi milhões de discos…

Quando me pediram para fazer as fotos da campanha da Paradise, fiz as poses típicas dos anos 1980, quando fazíamos contorcionismos e posições complicadas. No dia seguinte, estava toda dolorida! Afinal, estou a caminho dos 60!

Xuxa abriu o desfile com microvestido rebordado

Fotos Ines Rozario

Algumas histórias do convívio com o Simon:

Conheci fazendo uma entrevista para a revista Interview, no final dos anos 1970. Simon estava em uma sala da ruas Siqueira Campos, aplicando spikes e pedras em uma calça jeans, ao lado do irmão, David. Spikes, gente, nos anos 1970. E a calça era rasgada!

Abriu a San Sebastian, quando começaram os grandes desfiles, pouco depois

Fechou a San Sebastian e trabalhou como designer na Chopper. Lá, lançou uma coleção em nylons e tactel, inspirada em Bali

Em 1981 abriu a loja da Yes, Brazil. Era a única loja aberta, iluminada, com vitrine completa, na noite de inauguração do shopping Rio Sul. “Somos profissionais” , afirmou na ocasião

Inaugurou uma fábrica em São Cristóvão com mais um desfile primoroso, uma coleção moderna, completamente comercial. Comentou: “A roupa tem que vestir até minha mãe. Moda é feita para vender”.

“Iesa, você tem que vir na minha casa, para ver uma novidade que estou adorando”, falou ao telefone. Corri para ver a nova pauta, pensando que era uma calça diferente, uma camiseta. Era um móvel, uma cômoda de outros séculos, que ele havia conseguido para a casa! A foto dele com a nova paixão ficou linda.

Quem tem alguma peça da Yes não se desfaz. Acontecem alguns desvios, como contou a Xuxa. “A Sasha roubou tudo…” 

Completando: se foi um privilégio conviver com Simon Azulay e todo o movimento dos anos 1980, também é um privilégio acompanhar o trabalho da The Paradise.