Um desfile pode desviar a atenção de uma coleção, pode arruinar um estilo ou disfarçar as falhas, graças à ambientação, música, cenários. E nem sempre as assessorias e suas marcas (vejam como são importantes as assessorias por aqui, elas são citadas em primeiro lugar)  consideram todos os candidatos aos convites como dignos de assistirem ao show. Daí, que foi criado o re-see, espécie de ocasião que permite ver de perto a coleção, no show-room, sem os supérfluos teatrais dos desfiles. De vez em quando, dá problema, porque marca-se um re-see e na hora aparece um convite para outro desfile, de outra marca. Claro que neste caso, o desfile ganha.

Fotos Ines Rozario

Mas foi bom ver de perto a coleção Valentino. Normalmente, tenho achado meio pesada, muito escura, pouco verão. Mas vendo de perto, no luxuoso show-room da Place Vendôme, gostei bastante. A inspiração africana deu muito certo, não empobreceu nem ficou óbvia nos longos com estampas discretas em tiedye, deu um toque rock nas aplicações metálicas sobre pretos, manteve a origem Valentino nos brancos lindos. Quase tudo longo, tudo complementado por sandálias baixas, colares e pulseiras com adereços de máscaras africanas. Muito bonito, uma coleção que resiste muito bem à proximidade do re-see.

 

E mais: a moda reflete a sociedade e respectiva economia. Ao longo de algumas décadas observo a situação do Brasil frente à visão da moda parisiense. Nos anos 1980 a pequena imprensa brasileira presente era convidada pelas grandes marcas francesas, porque a maioria tinha licenças de grifes no Brasil. A Vila Romana confeccionava moda masculina com muita competência, a ponto de Pierre Cardin ter ido ao Brasil para ver de perto o sucesso das vendas de jeans, peças que nem fabricava na Europa.

Nos anos 1990 a invasão japonesa começou a dificultar conseguir os convites. Mas depois de muito recusar os convites, Kenzo, que era um dos mais copiados pelos confeccionistas do mundo (e do Brasil), acabou esvaziado, quase sem platéia. Nesta década, em compensação, o Brasil ganhou prestígio graças à atuação da Daslu, que vendia mais bolsas Chanel do que a loja de Paris, na rue Cambon.

A partir de 2000, com Gisele e boas noticias sobre a economia brasileira, o Brasil virou moda. Não só facilitou ter os convites, como havia surpreendentes filas A nas grandes marcas como Chanel e Louis Vuitton.

Infelizmente, as notícias correm. A atual situação econômica, as histórias de violência e a instabilidade geral  fazem com que o país vire convites sem lugar marcado. Para revolta de elegantes blogueiras, que argumentam para as assessoras que seus lugares devem ser na fila A. A assessora pergunta de onde são. A resposta “Brasil”  leva a francesa a ficar de nariz ainda mais em pé, e apontar para o fundo da sala. E ainda dá a opção da porta da rua!/ experiência própria: me perguntam se a revista Almost Paper (minha publicação online) era inglesa. “Não, é brasileira”, respondo honestamente, sabendo o risco que corria. Ok, claro que obtive um olhar gelado, mas obtive a permissão de entrar e até sentar!