Ele é o cara da moda brasileira, sem exagero. Mesmo que a roupa fosse sem graça, ou que o recurso de trocar o desfile por um vídeo com hora marcada parecesse economia, Pedro Lourenço acerta em coisas muito importantes. Pode até ser comparado com Karl Lagerfeld quando faz um desfile Chanel com uma coleção fraca, mas um conceito de show espetacular (lembrando o último, das turbinas eólicas, por exemplo, uma ode à necessidade de energia alternativa). Longe disto, da coleção fraca, porque o estilo do Pedro é bonito, feminino, limpo, apesar de bastante decorativo, com franjados de lamê, aplicações de elementos Swarovski com efeito de crocodilo e cristais sobre tricôs de cashmere. Segundo o próprio designer, a inspiração junta Diana Vreeland, Elsa Schiaparelli, imagens dos anos 1940, “retrabalhadas como colagens, no Photoshop, modernizadas pela construção gráfica”.

Destacam-se as saias plissadas com efeito ótico, as calças pretas com faixas brancas laterais, o uso do vermelho-sépia colorindo o conjunto quase todo em preto e branco.

Mas o principal sinal de avanço na moda é a opção pelo vídeo com hora marcada – 10 horas de sábado, dia 2 de março. Filmagem limpa, por Paulo Vainer,com a modelo Thairine Garcia de make quase zero, cabelos soltos, desfiados, por Daniel Hernandez, trilha do Glass Candy, “The Possessed”. Os sapatos são de Alexandre Birman e os poderosos braceletes, de Jack Vartanian.

Acabado o vídeo, surge a barra lateral, com janelas para a entrevista de Pedro Lourenço, o tempo todo com o tablet da Samsung na mão, cenário na FAAP, em São Paulo, em preto e branco. Outra janela, com fotos em alta resolução dos looks do desfile. Uma terceira, com todos os créditos.

O golpe final de modernidade e marketing impecável: Pedro mereceu os patrocínios da Samsung, que assina o vídeo e aparece com o tablet como elemento de criação, a África do Sul, traduzida nas aplicações que lembram peles de crocodilo e leopardos e a FAAP, onde foi rodada a entrevista de conceitos.

Há quem sinta falta de ambientação, do burburinho da sala de desfile real, de chegar perto dos materiais. Assim como deve haver quem gostaria de ver coleções como no século 19, vestidas em bonequinhas, que viajavam com seus costureiros em malas, em busca de clientes. Ou quem tenha a nostalgia das passarelas dos anos 1960, com marcações de pivôs rodopiantes e uma locutora anunciando os números dos looks em francês e inglês.

Moda é mudança. Pedro Lourenço está no caminho certo. Participou bem da agenda da semana de moda de Paris