Arte e moda andam próximas. Alguns exemplos: Dali e Elsa Schiaparelli nos vestidos e chapéus com lagostas e sapatos. Yves Saint Laurent com os vestidos da linha Mondrian. A alfaiataria belga inspirada nos homens de terno preto do Magritte. As bijuterias da carioca Rosana Bernardes reproduzindo cores e formas de obras da Tarsila.
O que vimos nesta semana foi algo parecido, reunindo moda e arte, mas com um jeito mais contemporâneo. O artista Heberth Sobral, a marca Sardina, de Gloria Marques e a curadora Christiane Laclau decidiram, depois de algumas reuniões, lançar uma coleção mantendo o DNA das partes. Gloria e Christiane têm em comum uma passagem de 35 anos pela Richards, o que já garante o bom gosto. Heberth transformou a alegria dos bonequinhos Playmobil que ganhava da avó quando criança, em obras de arte que já preencheram paredes de galerias em Brescia (Itália) e Tóquio (Japão). O trio mostrou o resultado na Casa Caminhoá, espaço alugado no Horto.
Os bonequinhos foram desconstruídos. Os cabelinhos, os braços e o sorriso formam bordados em forma de lagosta, na manga de um vestido preto. Ou são estampados em seda em chemises, calças e blusas que reproduzem exatamente um dos quadros do Heberth. Além das imagens, as roupas apresentam outra característica das Artes Plásticas, principalmente das gravuras: são edições numeradas, limitadas, marcadas em etiquetas. Por exemplo, são apenas 10 peças de um modelo, oito de outro, como se fossem múltiplos.
“Demoramos para criar, um ano de reuniões. Depois, demoramos para lançar, porque terminamos em novembro do ano passado. Ia confundir com Natal, não era exatamente uma proposta de presente. Depois, veio Ano Novo, Carnaval, e finalmente decidimos que estava na hora. “, conta Gloria, que assina a Sardina há 10 anos, sobre o atraso para mostrar as 23 referências (com variação de cores) com edição máxima de 18 unidades.
Quanto ao Heberth, que estudou Design na Estácio, “para entender o sistema”, aperfeiçoou o talento na Escola do Parque Lage e passou a pandemia estudando o mercado financeiro, assina agora Empresa, uma série de 100 quadros de acrílico sobre madeira, que são vendidos como ações. Decifrando quais partes dos Playmobils foram usadas, descobre-se a influência da África, dos índios e da vanguarda russa. “Pensei também em Rubem Valentim”, acrescentou o artista, que vestia uma camisa da Sardina, em seda azul da tecelagem Werner, uma das maravilhas tradicionais da indústria têxtil brasileira. As obras na Empresa têm preços a partir de R$ 5.200, e quem quiser pode comprar uma ou mais “ações” da série.
Quanto à camisa, senhores, nem adianta se animarem: é uma peça única, a Gloria não produziu linha masculina.