Em uma de suas vindas ao Rio, minha amiga Marina Sprogis _ no intervalo entre as semanas de moda internacionais, onde trabalha como fotógrafa _ veio ansiosa me pedindo para comprar um tênis brasileiro que fazia sucesso em Paris. As filhas adolescentes pediam para trocar as Havaianas (que costumam encher uma mala da Marina, para as amigas) pelo tais tênis.

A loja Centre Commercial, em Paris, perto do Canal St. Martin

Agora, enfim, fui apresentada ao Vert, o tênis criado por dois franceses, Ghislain Morillion e Sébastien Kopp, produzido com matérias-primas e mão-de-obra brasileiras, vendido nas três lojas dos sócios, as Centre Commercial, e mais alguns endereços nobres do universo da moda, como Bon Marché, Lafayette, Printemps, Agnès B., Barney’s, Anthropology e no Brasil, na Dona Coisa, Choix, além de collabs com a Lenny e a Mixed.

 

O SDU em tons nudes, com cabedal em juta natural e o uso de três garrafas pet na estrutura do tecido

Versão do SDU com o logo vermelho

A novidade é a linha SDU, com nome derivado da sigla do aeroporto Santos Dumont. Os franceses se encantaram com a vista das montanhas antes da aterrissagem e criaram a biqueira com recortes em forma dos morros cariocas. Os modelos quase clássicos, modernizados pelo conceito vegano, são feitos de juta natural ou algodão orgânico misturados com material extraído de três garrafas pet por par. A borracha é da Amazônia _ onde o contato com seringueiros fica por conta da Bia Saldanha, pioneira nas preocupações ecológicas no Brasil. O nobuk, em vez de couro animal, é laminado sintético, com tecnologia alemã.

Fala o Claudio Wochner, da equipe brasileira:

_ A marca tem 12 anos, e há um ano começam os pedidos de tênis veganos. Mas na verdade, primeiro o calçado deve ser bonito. Depois que a caixa é aberta, quem não conhece a marca fica sabendo do conceito de sustentabilidade, ou se é vegano. No Brasil, o preço do SDU é R$ 370, na Europa, são 100 euros. Quer dizer, são equivalentes.

Depois, o Leandro Miguel, do marketing:

Inspiração no design do tênis Rainha

_ A primeira inspiração dos criadores foi o tênis Rainha, popular e um sucesso no Brasil. Produziram 5.000 pares, começaram a vender no atacado em Paris, com a marca Veja. Quando vieram para o Brasil, há uns quatro anos, trocaram o nome, porque havia detergente e uma marca de moda chamados Veja. Vert foi aprovado, aproveitou o V do desenho do cabedal. Atualmente são seis linhas, incluindo a Wata (algodão, em japonês), feita de algodão orgânico do Nordeste. com biqueira clássica, tipo Converse, que voltou à moda. A marca vende em 17 países; o Brasil, apesar de ser o fabricante, responde por apenas 3% das vendas.

 

 

Leandro antecipa uma novidade: em agosto de 2018 sai uma botinha, mais robusta, estilo Timberland. “É um furo, heim?” acrescentou.

A história

Adoro estas histórias. Ghislain e Sébastien, ambos com 24 anos, prosperavam trabalhando no mercado financeiro em Nova York. Um dia, subiram no topo do prédio onde trabalhavam e chegaram à conclusão que estavam insatisfeitos com a profissão. Tiraram um ano sabático e saíram pelo mundo, em busca de projetos sustentáveis. Andaram pela índia, África do Sul, Brasil. Se desiludiam ao ver que, na índia, a sustentabilidade se resumia a bottons do WWF (World Wide Fund for Nature) nos caixas do Carrefour. Mas a Amazônia (sempre ela!) encantou com um projeto de palmito pupunha, exportado para o mundo. A dupla de viajantes viu que era possível um trabalho parecido, envolvendo moda. Conheceram os seringueiros através da Bia Saldanha, pesquisaram os algodões do Nordeste, acharam a fábrica no Rio Grande do Sul e o resto…é o tênis que a Maïa e a Manuela, filhas da minha amiga Marina, tanto queriam calçar.

E mais / nas fotos de quem estava lá, tem a Ana Andreazza, da Fashion, assessoria que organizou o evento, eu com o Leandro Miguel e o Claudio Wochner. A Juliana, também da Fashion, não está nas fotos, mas vestia um casaco camuflado militar maravilhoso, da À la Garçonne, comprado na NK Store / no brunch, destaque para o cardápio e as bebidas da Ami, delícias de sucos ultra saudáveis.

Trio Leandro, Iesa e Claudio

Ana Andreazza, da Fashion Marketing de Moda