rio sul
O Rio Sul completa 30 anos! Fica tão longe a noite de inauguração, os tres andares ainda escuros, com gambiarras precárias. A imagem inesquecível da única loja iluminada, com manequins e coleção, no fundo do terceiro andar: era a primeira Yes, Brazil. Simon Azulay fazendo questão de lembrar que apesar de ser considerado meio irresponsável por muita gente, era o único com espaço aberto naquela noite. Desde quando ele era irresponsável? Desde que tinha cabelo louro comprido, barba e usava jeans rasgado? Isto se chama visão de futuro, nunca irresponsabilidade.
Voltando ao Rio Sul, que quando abriu tinha supermercado PegPag, lojas de decoração, a Habitat, precursora da Tok & Stok, ambas de proprietários franceses. Um dos recantos recebeu as grandes grifes cariocas da época: Fiorucci (que começou em Ipanema, com Gloria Kalil como representante no Brasil), Marco Rica, Andrea Saletto, Maria Bonita, eram pontos que valiam 300 mil dólares! O sucesso do shopping era evidente. Mauro Taubman, da Company, confirmava, com tres ou quatro lojas, praticamente uma em cada andar – acho que tinha mais de uma em algum deles. A Mesbla era âncora, e lá firmou uma imagem de moda, que até fechar predominou sobre a tradicional de loja de departamentos com linha branca e perfumaria. Outra âncora, a C & A, saiu do cantão que ocupava no final dos anos 90. E que cantão era aquele? Quando saiu, abriu espaço para mais dezenas de marcas, virou uma área nobre, cheia de grifes.
A equipe de comando vivia atenta a idéias. “O que podemos produzir, para marcar posição de lançadores de moda, dentro de um contexto carioca?”, perguntava a turma do marketing – Claudio Guaranys, Sergio Malta, pela Salles, parte de publicidade, entre outros (desculpem a falta de memória para tantos nomes de gente boa). Quando me peeguntaram, sugeri um prêmio de moda, que foi importante para os profissionais da cidade e até do país, já que dele participaram modelos e marcas de outros estados. Era o prêmio Rio Sul de Moda. Da mesma época foi o livro O Rio que virou moda, uma tiragem pequena, de tres mil exemplares, editada pela Memória Brasil. Com capa de linho Leslie, arte de Victor Burton e as minhas histórias da moda do Rio desde os anos 1960, mereceu um lançamento alucinado, no Maxim´s, que na época ocupava o terraço da Torre do Rio Sul. Alucinado, porque lotou os elevadores, engarrafou o trânsito, acabou mais de meia-noite. Virou uma festa, de onde ninguém saía (vai ver, era por preguiça de enfrentar a fila do elevador para descer). Foi o primeiro livro sobre a moda do Rio, esgotou e até hoje pelo menos uma vez por semana alguém pede para conseguir um, reeditar, copiar, etc.
O Rio Sul mudou o rumo da moda. Se antes bastava ter uma lojinha bacana em Ipanema, a partir do momento em que o shopping abriu, com espaços que deviam obrigatoriamente ser preenchidos, foi o impulso para surgirem as redes de marcas. Para sair da etapa de butique ou ateliê, um estilista ou confeccionista (como eram chamados até então), era preciso ter loja no shopping. E em quantos mais abrissem depois, Barrashopping, São Conrado Fashion Mall, Morumbi Shopping, e os demais pelos estados.
Ok, já existiam o Centro Comercial de Copacabana, talvez o Iguatemi, em São Paulo – o primeiro era um amontoado de pequenas lojas, escadas rolantes estreitas, quase sem vitrines; o segundo, tinha uma loja de brinquedos na fachada e um relógio de água na frente. A idéia de glamour e luxo passava longe dos dois.

Hoje, trinta anos de atuação, impressiona a atualização, o empenho em reformar, iluminar melhor, aumentar as escadas rolantes. Quase se esquece que é um prédio fechado, uma caixa de concreto praticamente sem vista externa – ainda tem gente com o velho argumento de claustrofobia para deixar de ir ao Rio Sul? O estacionamento continua caótico, muito estranha aquela cachoeira barulhenta em um dos andares, um G4 ou G5, nem sei, porque prefiro entregar direto no setor Vip do que subir e descer ladeiras em busca de uma vaga. Os restaurantes melhoraram no térreo, apesar de a área maravilhosa no G4 estar fechada.

Para celebrar, o público fiel pode percorrer os pisos, apreciando a exposição que retrata a evolução da moda nestas tres décadas, com roupas vestidas por Luiza Brunet, Paulo Zulu, Ana Beatriz Barros, Felipe Hulse, Kátia Selinger e Gabriel Burger, curadoria do Marco Sabino e concepção técnica de Batman Zavareze.
A expo fica até dia 09 de maio. Mas a moda vai continuar no Rio Sul.